Na noite de hoje (23/03/24) se inicia a celebração de Purim. Apenas para relembrar:
- O calendário Judaico é lunar e o novo dia começa com o Pôr do Sol
- A cada semana é lida nas sinagogas uma parte da Torah (como se chama a Bíblia em hebraico)
- Assim, anualmente esta narrativa é relembrada e revivida (meu filho mais velho fez seu Bar Mitzva nesta celebração)
Esta narrativa está no livro de Esther, que faz parte da Bíblia judaica e da cristã
Esta história ocorre no VI século AC, quando um genocídio contra os judeus (obviamente o termo não existia à época) quase ocorreu no Império Aquemênida da Pérsia (que se estendia do Egito a Índia)
Os fatos ocorrem após a destruição do Primeiro Templo de Jerusalém (quele construído pelo Rei Salomão) e destruído por Nabucodonosor em 586 AC, e os judeus foram levados a um exilio na Babilônia.
Cerca de 780 anos após, Ciro, o Grande, Rei da Pérsia derrotou a Babilônia e o judeus puderam voltar a Terra de Israel, mas muitos se mudaram para territórios Persas (vários à época achavam que Ciro poderia ser o Messias, tão esperado pelos judeus)
Vashti, a Rainha é banida da corte, por desobedecer ao Rei Ahasuerus e uma espécie de “concurso de beleza” é realizado e a escolhia é Esther (nome em hebraico Hadassah) uma judia, que não revela ao seu esposo sua religião
Nesta mesma época, o Rei nomeia como Primeiro-Ministro Haman, um homem ruim, descendentes dos Amalequitas, inimigos jurados dos judeus.
Por um incidente menor (Mordechai, tio de Esther, que recusa a se curvar diante de Haman) o Primeiro-Ministro convence o Rei a promulgar um decreto que determinava que: “Em 11 meses, em um só dia, deveriam ser mortos, aniquilados, destruídos todos os judeus do império, incluindo, velhos, crianças e mulheres”
Por uma reviravolta do destino, Mordechai fica sabendo deste decreto secreto e convence sua Sobrinha (Esther a Rainha) a trazer este assunto ao Rei. Com muita coragem e astucia política, Esther faz o que lhe é pedido.
O Rei fica furioso e manda executar Haman na forca que havia sido preparada para Mordechai. Ahasuerus tb manda cancelar o decreto e autoriza os judeus a defenderem suas vidas.
Quando os judeus leem o cancelamento do decreto houve: “Alegrias e risos , uma festa e um feriado foi celebrado”, que recebeu o nome de Purim, a ser relembrado e guardado em cada geração (em hebraico se usa muito uma frase: “Ledor Vador”, que significa de Geração em Geração).
Porque é importante comentar este episódio bíblico nos tempos atuais, inclusive para os Cristãos:
- Porque está na Bíblia que é parte de nossa identidade cultural e religiosa
- Porque é o único Livro do Velho Testamento em que D’us não é mencionado, mas seu silencio nos revela que Ele trabalha escondido, através de Mordechai e de Esther
- Mas para os Cristão tem uma dimensão MUITO IMPORTANTE. Se Haman tivesse sido bem-sucedido não viria a existir vários séculos depois Jesus Cristo
Esta narrativa sagrada fala de antissemitismo (novamente a palavra não existia à época), antes de surgimento de outros movimentos deste naipe (Inquisição, Pogroms, Holocausto, etc.).
Os Cantos de “From the River to the Sea”, “Gas the Jews”, as agressões físicas, as ameaças de Bombas, os funcionários da ONU ligados ao Hamas, nos lembra que Haman e sua turba estão vivos e ativos (como escreveu Bertold Brecht em “A irresistível Ascensão de Arturo Ui”: “A cadela que pariu Hitler esta sempre gravida”)
Mais uma vez precisamos de uma Esther e de um Mordechai dos nossos tempos. Em certo momento da Meguilat (como se chama o Livro em Hebraico) Mordechai diz a Esther: “Quem sabe vc tenha nascido para uma época como esta”
Habitualmente esta é uma cerimônia alegre, com festividades, fantasias, jogos, pegadinhas presentes e festas de rua (uma mistura de Carnaval, com São João e Halloween), mas com o que ocorre no oriente médio, com os reféns presos e as reiteradas ameaças do Hamas tenho a impressão de que o clima de Purim 5784 não será alegre
O que posso desejar aos meus amigos judeus e não judeus: Leiam o Livro de Esther. Lembrem-se do que ocorreu e não se esqueçam, pois ainda está acontecendo atualmente.
Celebrem o Milagre de Esther e seu povo e não fiquem em silencio
Am Israel Chai (o Povo de Israel Vive)
PS: Tristemente a narrativa da Meguilat de Esther não termina tão bem:
Há um último capítulo (o 9º), que não costuma ser lido para as crianças, que conta o seguinte:
Após os planos de Haman terem sido frutados, os judeus ainda estão em perigo, pois o Decreto Real já foi distribuído pelo reino e não há como rejeitá-lo. O Rei manda armar os judeus para se defenderem e se calcula que 75.000 pessoas morreram no império
Até este capítulo final a Meguilat de Esther é uma espécie de sátira ou paródia sobre os horrores da vulnerabilidade. No entanto o Horror deste final é sobre quando vc efetivamente tem poder a sua disposição
Qualquer semelhança entre a narrativa de Purim e o que ocorre hoje entre Hamas e Israel NÃO é mera coincidência e não é à toa que Netanyahu se refere ao Hamas como sendo os Amalequitas
Tenho apreço por todas as vidas humanas (meu terapeuta me chama de um Iluminista fora de época e um grande amigo meu me relembra que do Iluminismo surgiu a Revolução Francesa, com todos seus Horrores) e me fere a alma ver o que ocorre em Gaza, mas infelizmente eu assisti o vídeo gerado pelo próprio Hamas com as barbaridades que perpetraram no 07 de outubro e isto me desnorteia.
Eu até tenho uma ideia (maluca como sempre) de como tentar resolver este imbróglio e em um outro post eu colocarei
Happy Purim (Feliz Purim)
Jairo
Quem tiver interesse este é um livro bom de ser lido: