Quem me conhece um pouco sabe que minha espiritualidade não se expressa pelos dogmas das religiões, conforme elas foram codificadas.

Tenho para mim que existem pelo menos 6 atributos, que até podem ter importância, mas que para mim, não tem valor que são:

  1. Gênero
  2. Raça
  3. Religião
  4. Nacionalidadez
  5. Beleza
  6. Inteligência

Estes atributos não têm importância, pois (com exceções) pois em nenhum destes tivemos alguma participação no processo de escolha. Portanto, o fato de eu ter nascido em um lar judaico não me faz melhor ou pior do que se tivesse sido outra denominação religiosa, do mesmo modo que ter nascido brasileiro não me faz melhor do que ter nascido em outro país.

O que cada uma de nós fez com o seu “pacote inicial” sim tem valor, como escreveu o poeta espanhol Antonio Machado: “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”

Me esforço a estudar outras religiões (incluindo em viagens especificas) e creio que aprendi um pouco sobre várias delas e no fundo me parece que todas pregam algo parecido (obvio que não inclui os fanatismos).

Na crença judaica (vale lembrar que o Antigo Testamento é parte das Sagradas Escrituras do Cristianismo) o dia do:

Este é o (não) pequeno aspecto desta celebração que me parece não ser tão intensamente expressada em outras fés. D’us perdoou o Povo de Israel coletivamente. Para termos o Perdão (na crença judaica: “Sermos Inscritos no Livro da Vida”) precisamos agir como uma Comunidade e não Individualmente. As orações e pedidos não são feitos de forma solitária. Fazemos em Comunidade, em voz alta onde se imagina que a prece de cada um, se soma a do outro e assim vão se unindo, fazendo com que cheguem mais alto. Pedimos perdão as ofensas que fizemos a outros e tb perdoamos as que eventualmente tenham sido feitas contra nós

Temos a chance de um novo recomeço

Nos tempos atuais, no mundo judaico a que eu pertenço, não são muitas pessoas que frequentam as Sinagogas (no judaísmo a Sinagoga não é um lugar sagrado e podemos rezar em qualquer lugar) no seu cotidiano, mas nas chamadas Grandes Festas (e em especial Yom Kippur) elas lotam, pois há uma sensação de conforto em fazermos nossas súplicas coletivamente.

Minha percepção é que cada vez mais nos distanciamos do coletivo e tomamos decisões individualistas e imediatistas, sem solidariedade com o próximo e menos ainda com o futuro.

Tenho um amigo católico de família tradicional Paulistana que há muitos anos me fez um comentário do tipo: “Tenho um pouco de inveja de vcs judeus, pois vcs “pertencem” a alguma coisa, enquanto eu, como parte da maioria, sou um anônimo.

Hoje o vínculo de pertencimento está em coisas um pouco mais mundanas, como:

  • Que Condomínio de Lazer eu frequento?
  • Em qual a confraria que eu vou?
  • O Club do Porsche (ou algo do tipo) que eu pertenço
  •  Ao Lulismo ou Bolsonarismo?

Quanto eu ganhei em Criptomoedas (sem se importar que este meio digital estar financiando Narcotráfico, tráfico de drogas e tantas outras maldades)?

A este ou aquele Club de Futebol

Por outro lado:

Uma boa parte de Clubes sociais vem minguando o número de associados e vários desapareceram

Muitas escolas de origem religiosa (não importa de qual fé), onde a Elite estudava já não existem. Eu estudei numa escola laica (colégio Rio Branco), mas era parte da Fundação dos Rotarianos, com valores éticos e culturais muito próximos daqueles dos de meus pais

Até Hospitais oriundos de comunidades especificas sofrem com isto, só para citar:

  • Em São Paulo
    • O Hospital da Comunidade Italiana faliu (hoje o local é um lindo empreendimento imobiliário
    • O Hospital da Comunidade Inglesa foi vendido para uma rede comercial
  • No Rio de Janeiro: O Hospital Israelita Albert Einstein (existe desde 1937) se afiliou a uma rede comercial

John Donne, poeta inglês do Século XVII, fundador no Movimento “Metafisico” escreveu este lindo poema abaixo, que serviu de título para o Romance de Ernest Hemingway: “Por quem os Sinos Dobram?” que descreve os horrores da Guerra Civil Espanhola

No man is an island,
Entire of itself.
Each is a piece of the continent,
A part of the main.
If a clod be washed away by the sea,
Europe is the less.
As well as if a promontory were.
As well as if a manor of thine own
Or of thine friend’s were.
Each man’s death diminishes me,
For I am involved in mankind.
Therefore, send not to know
For whom the bell tolls,
It tolls for thee.

Portanto não perguntes por quem os sinos dobram. Pois eles Dobram por Ti.

Durante a semana eu almoço no Hospital, numa ala reservadas para médicos (imaginem comer comida de hospital a semana toda) e é um dos poucos momentos de relaxar durante o dia e que conversamos entre colegas. É bem interessante avaliar com um “Olhar distante” a psicologia desta singela refeição.

Alguns poucos preferem sentar-se sozinhos. Colocam seus fones de ouvido e assistem alguma aula.

Um grupo de médicos administradores fazem a sua “panelinha” e na minha opinião perdem uma oportunidade de ouvir o que toca na “Radio-Peão” (entendo que queiram ter seu horário de folga)

Alguns se sentam com colegas de sua especialidade e creio tenham uma conversa mais focada a seus assuntos.

Há uma mesa onde impera o Social. Misturam idades especialidades e as conversas são sempre mais amenas

Há uma (na verdade mais que uma) mesa onde o assunto é o Futebol.

Eu tento variar o grupo com o qual me sento, e tentar absorver tudo que posso da experiencia de outros

Mas em quase todas as mesas, em algum momento a conversa foca nos problemas que a burocracia e gigantismo do Hospital impõem, a quem atende a pacientes privados.  Na semana passada, em um destes almoços me sentei com um antigo dirigente da Instituição e durante a nossa conversa ele me disse uma frase que causou enorme repercussão:

Ele disse algo assim. “Vc sabe qual a diferença entre nós dois? Vc ainda se importa com o que acontece aqui, eu não me incomodo mais”.

Este é o ponto.

Eu realmente me importo, não só com o que acontece no Hospital onde eu trabalho (e que minha família se dedicou com empenho a erguer).

Eu me importo com o que acontece com a minha família, com meus amigos, com os pacientes que me procuram, com as pessoas com quem trabalho, com as pessoas que cuidam de mim.

Eu me importo com o que acontece com os Palestinos, como tb o que acontece com os Israelenses. Me importo com as tragédias ocorridas na Líbia e no Marrocos

Eu me importo com a invasão da Ucrânia, mesmo com todas as perseguições e Pogroms que minha família sofreu nesta terra.

Penso que de alguma maneira, precisamos reencontrar o sentimento de comunidade e pertencimento e buscarmos soluções. Precisamos nos importar com cada um e com o todo.

O judaísmo não tem uma resposta para este assunto (e ser judeu não se traduz em ações que solucionem esta situação, vide a questão dos Palestinos). Apenas, e apenas tem este aspecto de tentar obter o perdão de forma comunitária

Minha avó Fanny (Paterna) me ensinou que existe um momento especifico da celebração do ano novo Judaico, onde o Criador esta mais receptivo a ouvir as nossas preces. É no momento do toque do Shofar (é uma espécie de trombeta feita de chifre de carneiro). Orei por todos vcs. No link abaixo, se quiserem, podem assistir a isto no Muro das Lamentações em Jerusalém:

Eventualmente vcs tenham assistido ao recente filme sobre a Primeira Ministra de Israel Golda Meir (quem a interpreta é a Helen Mirren ). A música de fundo (e do final) foi composta por Leonard Cohen: Who by Fire, Who By Water. https://youtu.be/unW5w6JCEb8

Uma das principais rezas das Grandes Festas é o Unetaneh Tokef  que diz:

Em Rosh Hashaná é inscrito, e em Yom Kipur é selado: quantos irão falecer, e quantos nascerão; quem viverá, e quem morrerá; quem em seu tempo, e quem antes do tempo; quem pelo fogo e quem pela água; quem pela espada e quem pela fera; quem pela fome e quem pela sede; quem pela tempestade e quem pela peste; quem engasgado e quem apedrejado… Quem descansará, e quem vagará; quem ficará tranquilo e quem será incomodado; quem ficará em paz e quem deverá sofrer; quem ficará pobre e quem se tornará rico; quem vai cair e quem se erguerá… Mas o arrependimento, prece e caridade revogam o perverso decreto!

Ontem recebi uma mensagem de uma paciente querida, que virou amiga nestes anos, me pedindo ajuda no caso de uma refugiada Afegã, aqui em São Paulo, que precisa de algum emprego

Peço perdão a cada um de vcs por ofensas que tenha causado e ninguém me fez algo que precisasse de perdão. Shana Tova e Chatima Tova.

2 Replies to “A Celebração de Rosh Hashana e o Yom Kippur deve ter alguma relevância para os não judeus nos tempos atuais?”

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