A Cidadela, foi publicada em 1937, é um dos livros que qualquer um que estudar ciências da saúde (em especial Medicina) tem que ler (0 Livro de San Michele de Axel Munthe também deve ser lido).
Seu autor foi A. J. Cronin, parte d euma estirpe de médicos escritores, como: W. Somerset Maughan; Conan Doyle; Anton Tchekov; François Rabelais entre outros.
A Cidadela descreve a vida de Andrew Manson, médico recém formado que em 1924 vai trabalhar em Blaenelly, uma pequena cidade de mineração de carvão (uma das mais insalubres profissões que existem) no País de Gales. Lá ele conhece sua futura esposa Christine.
Ele chega lá cheio de ideais e entusiasmo e com o passar do tempo vai percebendo que a profissão que ele tanto idealizava costuma ser aplicada de forma ambiciosa e quase desumana.
Algum tempo depois ele se muda para outra cidade da região, Aberalaw, onde tem um filho, que vem a falecer de pneumonia
Um dos grandes problemas que ele encontra é que os cidadãos tem noções antiquadas de como a medicina deve ser praticada e resistem à novas técnicas e regras de higiene e saúde (vejam que quase 1 século depois nesta Pandemia de COVID nos deparamos com problemas parecidos).
Dr. Manson suspeita haver uma ligação entre o pós aspirados pelos mineiros nas minas de carvão e algumas sérias complicações pulmonares que ele percebe em seus pacientes (Há muitos anos este assunto foi comprovado e é conhecido como Antracose Pulmonar). A população local não entende bem seu intuito e obviamente a administração das minas de Carvão que força-lo a suspender as pesquisas. Quando ele publica suas pesquisas sua convivência fica muito difícil e ele se muda com sua esposa para Londres.
Na grande metrópole ele se torna um médico bem sucedido, mas percebe que existe uma espécie de cooperação entre os médicos Londrinos, um encaminhando pacientes particulares para o outro. Gradativamente ele vai se tornando “bem sucedido” (financeiramente) e passa a não ter mais tempo para suas pesquisas.
Christine vem a falecer após um atropelamento e isto abala muito o Dr. Manson, que volta a Blaenelly e se volta a cuidar da população carente e obviamente volta se confrontar com interesses poderosos.
Este livro, que foi um estrondoso sucesso, expôs a todos os dilemas da Ética médica. Muitos atribuem que este livro lançou as bases para alguns anos após ter sido criado o NHS (National Health System), possivelmente um dos mais bem sucedidos e abrangentes sistemas de saúde pública do mundo. https://www.rcpe.ac.uk/sites/default/files/omahony_0.pdf
Cronin once stated in an interview, “I have written in The Citadel all I feel about the medical profession, its injustices, its hide-bound unscientific stubbornness, its humbug … The horrors and inequities detailed in the story I have personally witnessed. This is not an attack against individuals, but against a system.”
Este enredo foi adaptado para varias versões cinematográficas e de televisão. A mais conhecida é de 1938: https://www.imdb.com/title/tt0029995/
Uma perspectiva pessoal minha (pela minha escolha de sub-especialidade) neste livro há um relato que conta: “Numa certa manhã ele é chamado para assinar um formulário atestando que um trabalhador das minas era um “Lunático”. Dr. Manson diligentemente examina o paciente e diagnostica uma forma avançada de hipotiroidismo “Loucura Mixedematosa”, a qual era uma entidade descrita pouco tempo antes e que à época não tinha testes laboratoriais (isto não ocorre mais nos tempos atuais, pois dificilmente não se faz um diagnóstico precoce).
O tratamento desta condição é um dos mais perfeitos que a Medicina desenvolveu, que é a reposição deste hormônio por via oral. Durante décadas a forma de prescrição era feita por grãos de tiróide animal dissecada (minha mãe falecida há poucos anos atrás, usou isto por muitos anos) e era comum as pessoas relatarem que estavam tomando “Tiróide”, pois realmente estavam ingerindo extrato desta glândula.
A. J. Cronin nasceu na Escócia, onde se formou em Medicina em Glasgow, como seu personagem (ou quem sabe seu “alter-ego”) foi trabalhar em cidades de mineração de carvão no País de Gales. Em 1924 foi nomeado Inspetor-Geral das Minas da Grã Bretanha.
Depois de alguns anos se mudou para Londres, onde praticava Medicina na Harley Street (a rua dos médicos em Londres, como foi a Rua Itapeva em São Paulo, por muitos anos)
Em 1930 ele teve uma úlcera duodenal e lhe foi prescrito um período de 6 meses de repouso e uma dieta de leite. Aproveitou este período para começar a escrever . Levou 3 meses para terminar seu primeiro livro: “O Castelo do Homem Sem Alma” (Hatter’s Castle de 1931). O livro foi um imediato sucesso , lançando uma carreira literária muito bem sucedida. Cronin nunca mais retornou a praticar medicina
Com a adaptação de suas estórias para o cinema Cronin e sua família se mudaram para os EUA até meados dos anos 50, quando retornou para a Europa e foi morar na Suíça (Lucerna e Montreux) . Sua relação com o “Establishment” Médico Britânico se deteriorou após a publicação da “A Cidadela” e nunca mais se re-estabeleceu.
Quando faleceu, seu obituário saiu no The New York Times: https://www.nytimes.com/1981/01/10/obituaries/aj-cronin-author-of-citadel-and-keys-of-the-kingdom-dies.html