Ou melhor, como sair da caverna?

Na semana passada (quarta feira, 15/09/21) celebramos o Yom Kipur (dia do perdão) onde aqueles que seguem a tradição jejuam desde antes do por sol, até depois do por do sol do dia seguinte (5a feira).

Em muitas familias é um costume se fazer um jantar de confraternização (não é algo religioso) em familia.

Durante muitos anos este evento (e outros) eram comemorados na casa de meus Tios-Avôs Maternos (Antonieta e Leon).

Havia uma enorme mesa em formato de “U” (as pessoas mais “graduadas” se sentavam na parte principal e os jovens, como eu, nas pontas).

Era uma balburdia muito legal, pois vários destes parentes não eram de nosso convívio diário e assim colocávamos em dia as conversas e aventuras desde a ultima festividade.

Com o passar das gerações passamos a celebrar na casa de meus Sogros (Margarida & Mario), mas o roteiro era o mesmo.

Novamente ocorre uma troca de gerações, e esta celebração passa a ser feita me nossa casa.

Com a pandemia deixamos de nos ver pessoalmente, e não mais comemoramos em familia estas festas judaicas (que são a essência de uma “mishpacha” judia). Não nos encontramos por cerca de 18 meses.

Foram pelo menos duas celebrações de Pessach (pascoa judaica), duas de Rosh Hashana (ano novo judaico) e teriam sido duas de Yom Kipur (dia do perdão).

Após muita reflexão a Mais-Mais (Luci para quem não sabe) e eu resolvemos receber os parentes proximos para “quebra do jejum”.

No total eramos 14 pessoas. Nosso protocolo:

  1. Todos eram vacinados (esquema completo)
  2. A Mais-Mais fez 3 mesas bem separadas, em ambientes distintos, janelas abertas e bastante espaço entre as pessoas
  3. Cada um recebeu uma (ou mais) pulseira colorida, identificando seu status
    1. Vermelha: quem já teve COVID
    2. Amarela: Vacinado com Pfizer
    3. Azul: Vacinado com Astra Zeneca
    4. Amarela:Vacinado com Coronavac
    5. Roxa: Vacinado com Janssen (mas não tivemos ninguém nesta categoria)

Aqui que entra a “Síndrome da Caverna”:

Não sabíamos qual seria o código de conduta neste “Novo Normal”:

  1. Poderíamos nos abraçar (lembrem-se todos somos vacinados)?
  2. Quem fica com quem?
  3. Usar ou não mascaras para se servir?

Alguns autores (coloquei links abaixo) descrevem esta entidade como sendo “A Síndrome da Caverna”.

Após este longo período de distanciamento social muitas pessoas (incluindo Luci & eu) tem tido enorme dificuldade de voltar a vida “normal”. Cito algumas: situações:

  1. Casamento Vicky & Gabriel:
    1. Era para ter ocorrido em Maio 2020
    2. Já tentamos remarcar várias vezes.
  2. Fomos uma vez ao Cinema: Em um drive-in em Atibaia
  3. Viajamos 3 vezes:
    1. No Natal fomos para um lindo Canyon (Itaimbezinho) na fronteira entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina (ficamos em chalés isolados)
    2. No Carnaval fomos acampar no Jalapão
    3. Em agosto fizemos uma navegação (em um barco privado) pelo Rio Tapajós
  4. Poucas vezes estivemos na casa de outras pessoas: Em geral ficamos na parte externa (terraços) das casas
  5. Fomos em muito poucos restaurantes e em geral escolhemos aqueles em que posamos:
    1. Ficar em area externa
    2. Tenham pé direito bem alto
    3. Sentar na janela

John Steinbeck em seu livro “A Longa Noite Sem Lua’ (The Moon is Down), escrito em 1942 relata a ocupação de uma cidade no norte da Europa, por um exército estrangeiro (qualquer semelhança com a Noruega invadida pela Alemanha Nazista é mera coincidência). No final deste magnifico livro há uma frase que diz aproximadamente: “Agora que a escuridão passou, eu não consigo me lembrar da escuridão”. Pois bem, para muitos de nós é o inverso que esta acontecendo, explico: agora que a pandemia parece já estar passando, eu não estou conseguindo sair da minha caverna

Se tiverem interesse leiam este artigo do Scietific American sobre este assunto

https://www.scientificamerican.com/article/cave-syndrome-keeps-the-vaccinated-in-social-isolation1/

Esta síndrome remete a metáfora escrita por Platão no “Mito da Caverna”. No caso atual se refere ao medo e/ou ansiedade de se retornar a vida “normal” com o possível “fim” da pandemia.

One Reply to “A Síndrome da Caverna”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *