À Esquerda imagem do pulmão do meu amigo de 2012 e à direita em 2020 as manchas brancas são da lesão do COVID-19

Não sou muito vaidoso e não gosto de holofotes em cima de mim, mas a minha área de atuação profissional (área da saúde) me dá oportunidades que eventualmente outras profissões não permitam, como verdadeiramente poder ajudar pessoas em necessidade e receber manifestações como a que segue abaixo

Trata-se de um amigo de longa data, cuja família dele tem um imbricamento muito grande com a minha (Só para dar uma dimensão: Bisavô da esposa dele foi médico de minha família). Já viajamos juntos, mas eu não cuidava da saúse dele.

Há um ano ele teve uma forma grave da COVID-19, numa época que sabíamos ainda menos do que hoje. Evoluiu rapidamente para Insuficiência respiratória, com necessidades crescentes de Oxigênio e piorando de forma rápida. Gastei todos os recursos que eu conhecia, consultei a vários especialistas em vários assuntos (mas lembrem-se que se trata de uma doença nova, onde não existem “especialistas”).

Por uma destas coincidências que eu não consigo entender, na passagem de ano, quando fui para Paraty (naquela casa que relato neste blog com o nome de “Paraíso Perdido https://mostlykind.com/paraiso-perdido/) eu levei para ler um livro intitulado: “Cytokine Storm Syndrome” https://www.springer.com/gp/book/9783030220938. As descrições e imagens pulmonares eram assemelhadas as que eu estava vendo nos casos de COVID. Como sou um tanto “Cara de Pau”, entrei em contato com um dos autores do livro que pacientemente me foi explicando do que se tratava e o que, pela compreensão dele poderia ser feito no meu amigo (trata-se de um anticorpo monoclonal, sintético, que bloqueia um receptor ligado a cascata inflamatória).

Conversei com os familiares do meu amigo e ele concordaram com a administração deste medicamento (é um destes remédios já existentes, que passam pelo que se chama “reposicionamento de medicamentos”.

Cerca de 48 hs após esta única aplicação ele começou a melhorar e teve uma recuperação plena. Este bom resultado me encorajou a persistir nesta linha e vários outros pacientes se beneficiaram desta abordagem.

Quero deixar claro, que não é uma panaceia, serve em alguns poucos casos e não estou fazendo propaganda do medicamento, nem do que foi feito

Porto Feliz, 10 de abril de 2021

Jairo, meu dileto amigo e protetor

Há exatos um ano, tive alta da minha internação por Covid. Foi uma graça a mim concedida, a qual também devo agradecer infinitamente a você, maestro maior, e a uma inúmera quantidade de médicos, familiares e agentes de saúde. Te agradeço de coração pela assistência médica, pela fibra e sobretudo pela coragem.

Sei que causei muita aflição, apreensão e noites mal dormidas… Todo o esforço não foi em vão. Estou aqui, feliz e saudável. Muita coisa mudou e ainda vai mudar no mundo. Acho que também mudei para melhor. Olho adiante com esperança, pois sim, vale a pena.

Certa vez, ouvi uma explicação sobre o uso da palavra “obrigado” em português (muito mais comum que grato), em comparação com suas congêneres “thank you”, “gracias”, “merci”, “grazie”, etc… Tinha a ver com um sentido muito mais profundo de agradecimento dessa alma portuguesa, que toma a forma de “o reconhecimento de uma dívida entre quem recebe um favor ou gentileza e quem o faz – ambos, dessa forma, ligados, atados, presos por um laço moral”.

Assim, fico-lhe obrigado, meu caro.

Receba esse meu abraço virtual nesse aniversário de alta. E que seja bem apertado!

Abraços e um bom fds,

R.

Abaixo segue a minha resposta a le

R. querido,

Estou em lagrimas e vc é o culpado.

Quem tem a agradecer sou eu, a quem asua família (que eu adoro) depositou confiança em mim, mesmo sabendo que não sou especialista em NADA e muito menos em Covid.

Mas vocês todos sabem que sou perseverante, que tenho uma obstinação terapêutica (que as vezes até é um problema) e lá fui eu estudar o seu problema.

Tenho uma teoria meio maluca que o Criador gosta de mim (me testa, mas gosta).

Já completei 650 casos de Covid tratados e continuo invicto (nenhum óbito), mas fico assustado e com muito medo de ser prepotente e não prestar atenção em algum detalhe.

Um de meus livros prediletos é “Terre des Hommes” de Saint Exupery (https://ebooks-bnr.com/ebooks/pdf4/saint_exupery_terre_des_hommes.pdf. Nua parte ele relata sobre um acidente, que seu grande amigo Guillaumet teve nos Andes, e ele escreve a seguinte frase:

“Ce que j’ai fait, je le jure, jamais aucune bête ne l’aurait fait”

Não quero ser arrogante (vc me conhece bem) mas me sinto um pouco como nesta frase (proporções feitas, que Guillaumet salvou sua própria vida, após ficar um tempão preso nas neves dos Andes).

Obrigado por tudo e lembre-se que temos um trato de depois desta pandemia celebrar de verdade

bjs e abs virtuais

jairo

One Reply to “Agradecimento um ano de COVID”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *