(ou como um judeu percebe este período do ano)
O título do primeiro livro de Guimarães Rosa é “SAGARANA” (é um livro de contos, onde um deles é bem conhecido: “A hora e a vez de Augusto Matraga”).
Uma das peculiaridades deste notável escritor era a criação de neologismos. Saga tem uma origem germânica com um sentido de epopéia e RANA vem do Tupi (só alguém com Guimarães Rosa para pensar nesta fusão de idiomas), que significa “semelhante”. Sagarana significa algo como “Próximo a uma Saga”
Tomo a liberdade de copiar o Acadêmico Guimarães Rosa e criar o meu Neologismo: “Christmas Sameach”. Óbvio que todos sabem o que é Christmas (Missa de Cristo), enquanto que Sameach em hebraico significa Feliz.
Todos sabem que eu sou mais um “Judeu Cultural” (outro neologismo) do que religioso (no sentido das praticas dos cânones). Venho de uma família bem assimilada, tenho pais e avós nascidos no Brasil e tenho até um Tataravô enterrado em São Paulo (não é comum) e de quando em quando visito sua sepultura. Algumas lembranças de infância:
- Por alguns anos eu estudei no Colégio Dante Alighieri (não tenho boas lembranças desta escola)
- Lá tinha Aula de Religião (na verdade era só sobre Catolicismo) e eu, um dos poucos judeus da escola era dispensado (ou convidado a me retirar) e passava aquele período no patio, sem fazer nada.
- Ao termino deste “dolce far niente”meus colegas saiam e por vezes eu tinha de conviver com as “brincadeiras” (hoje creio que se chamaria de Bullying) de que os Judeus mataram Jesus Cristo. Lembrem-se que isto foi antes do Concilio Vaticano II.
- Atenção: “O que não me Mata, me Fortalece”disse Nietzche.
- Sou o que sou pelas experiencias que tive e não reclamo delas
- Na minha adolescência eu fiz intercambio e fui morar com uma famíla em San Jose (antes de virar a meca do Silicio) e fui estudar numa escola publica: “Cupertino High School”e na entrada dela estava escrito: “School is not preparation for live; It is Live itself”, querendo dizer, que como na vida, vai ter gente que não vai gostar de vc, vão ocorrer injustiças, etc. Mas é assim que se cresce.
- Meus pais sabiamente me transferiram para o Colégio Rio Branco, que era quase uma escola judaica (por exemplo eles não marcavam provas nos dias de feriados judaicos
- No entanto nunca me esqueço do lema (tb me lembro do hino) do Rio Branco: “Per Aspera ad Astra”. Pelos caminhos ásperos até as estrelas (para triunfar é preciso vencer muitos obstáculos)
- Na celebração do Natal propriamente dita:
- Em geral ficávamos em casa mesmo (não se viajava como hoje em dia), onde:
- Não havia presépios. Lembrando que esta é uma tradição criada por São Francisco de Assis (um dos meus Santos prediletos) em torno do século XII
- Nem havia Árvore de Natal, que é uma tradição Germânica do Século XVI
- Um pouco confuso pela peculiaridade de não sermos uma familia ortodoxa e ao mesmo não participar das celebrações do resto das pessoas:
- Vou explicar para os meninos: Sabe como voce se sente quando vai com sua esposa na Victoria Secret (ou outra loja de Lingerie)? Quando eu vou com a Mais-Mais eu sempre pergunto: Where is the Husband Waiting Area?
- Creio que se minha familia fosse mais religiosa (agradeço por não terem sido, e por terem me dado uma educação pluralista) estas confusões seriam menores.
- Não se trocava presentes com outras pessoas, mas meu irmão e eu recebíamos presentes sim.
- Imagine voce ser uma criança e do dia 25 de dezembro todos seus amigos iam desfilar os presentes que ganharam e vc ficava morrendo de inveja
- No entanto, na mesma época do Natal se celebra no judaísmo Chanuka (festa das luzes, onde se acende um candelabro) e onde há uma tradição de se dar presentes para as crianças (se conhece como Chanuka Gelt, ou dinheiro de Chanuka)
- Bingo: Problema resolvido. Meu irmão e eu não ganhávamos presentes de Natal, mas sim presentes de Chanuka
- Em geral ficávamos em casa mesmo (não se viajava como hoje em dia), onde:
3. Quando eu dava plantão, tanto na Faculdade, Residencia e na UPA do Einstein eu que dava o plantão de Natal (com muita satisfação e entendendo ser o minimo que eu poderia fazer pelos meus colegas.
Luci e eu já estivemos na comemoração de Natal na casa de alguns amigos muito queridos e foi MUITO agradável, porem (não me levem a mal) há um sentimento de “não pertencimento” e de alguma forma preferimos ficar na nossa intimidade, assistir pela TV as celebrações pelo mundo inteiro.
Com nossos amigos Ramalho e Hamerschlak assistimos a Missa do Galo em Belem, na Terra Santa. Experiencia única, que esta relatada em outra pagina deste Blog: https://mostlykind.com/noite-de-natal-em-belem-terra-santa/
Elena Kagan é uma Juiza da Suprema Corte dos EUA, que quando foi sabatinada pelo Senado americano para ser aprovada ou não para este cargo teve de responder a seguinte questão:
Onde voce vc estava no Natal? (para um judeu esta pergunta é no minimo capciosa)
Vejam no video abaixo a resposta dela (isto é humor judaico):
Assim queridos amigos, desejamos a vocês todos um Christmas Sameach e um excelente 2022
Adorei!
Excelente !!!
Querido amigo Jairo, que delicia ter seus insigths sobre aquelas situaçoes que nós judeus culturais passamos e esta sobre a aula de catecismo é mais que emblemática.Me traz as recordações dos anos 50 quando estudava no Colégio PIo XI , em Niterói,onde por falta de opção e por conveniência de uma escola no bairro de Icaraí , onde a colonia tinha se estabelecido, a professora me convidava a ir para o pátio…… Christmas Samaeah.
Ronaldo,
Veja como as histórias se repetem
abs