Plano que o Governo da Califórnia anunciou no dia 17/02/22

Após minha equipe ter atendido mais de 1.000 (isto mesmo mil) casos de Covid, nestes quase 2 anos de pandemia, sem nenhum óbito, eu imaginaria que saberia dizer alguma coisa sobre o que devemos esperar. Não sei e efetivamente não tenho argumentos para defender algumas das muitas especulações que escuto, como:

  1. O vírus esta ficando “bonzinho” e vai se tornar como um dos quatro outros Coronavírus que já existem e que não causam muito mal.
  2. Como há uma possibilidade da variante Ômicron contaminar uma grande parte da humanidade, alguns esperam que a tal “imunidade de rebanho” acabe ocorrendo.
  3. Alguns acreditam que seja finita a quantidade de mutações que podem ocorrer no vírus e que em algum momento seu ciclo vai terminar

Pessoalmente eu tenho lá minhas duvidas sobre estas ideias (eu me defino como um judeu devoto de São Tomé: “ver para crer”), pois:

  1. Alguns vírus foram controlados não por terem se tornado “bonzinhos”, mas porque as vacinas ou os eliminaram (um único caso: Varíola), ou controlaram muito a sua contaminação (caxumba, rubéola, sarampo, Febre amarela, poliomielite e algumas poucas mais)
  2. Que eu saiba não há uma “pressão evolutiva” de vírus se tornarem mais amigáveis
  3. Jacques Monod, Premio Nobel de Medicina (1965) escreveu em 1970 o famoso livro “O Acaso e a Necessidade” https://dererummundi.blogspot.com/2009/10/o-acaso-e-necessidade.html (o titulo se baseia numa frase do Filósofo Grego Demócrito https://pt.wikipedia.org/wiki/Dem%C3%B3crito que diz: “Tudo que existe no Universo é fruto do Acaso e da Necessidade”, utilizando deste conceito um vírus poderia ter uma mutação que seja:
    1. Por Acaso: e portanto uma vez poderia vir mais “bonzinho”, mas em outra (como as vezes ocorre com a Gripe”, mais “malvado”).
    2. Por uma necessidade, por exemplo se ele for menos letal ele poderá atingir mais pessoas.
Acaso e Necessidade por Monod

Alguns pontos me fazem pensar que vamos ter de conviver com este vírus (e possivelmente com outros mais) por muito tempo, pois parece que ele esta se tornando endêmico, isto é, que vamos ter este coexistir com ele, como já ocorre com tantas outras, como: Dengue, Febre Amarela, Dengue etc..

Algumas razões me fazem a pensar desta maneira:

  1. O surgimento de novas variantes (que não parece estar deixando de ocorrer)
  2. Um certo “excesso de confiança”, como:
    1. A aparente menor taxa de mortalidade que estamos vivenciando neste momento.
    2. A esperança (que esta se realizando) que as vacinas sejam protetoras (eventualmente não tanto quanto desejamos).
  3. O esgotamento mental das pessoas em isolamento, levando a comportamentos que impõem maiores riscos (por exemplo as “baladas”)
  4. A necessidade de se manter a economia funcionando
  5. O “negacionismo” de uma parcela (não desprezível) da população.
  6. Animais que convivem conosco (domésticos ou não) estão sendo portadores deste vírus https://www.ukri.org/our-work/tackling-the-impact-of-covid-19/understanding-coronavirus-covid-19-and-epidemics/animals-and-covid-19/, isto diminui em muito a chance dele desaparecer (doença infecciosa que é passível de ser eliminada é aquela que não tem um outro hospedeiro além do homem)

Como podemos em conjunto atuar nesta possível nova fase desta doença:

Quando não tenho a resposta para minhas indagações eu vou tentar saber o que pessoas ou populações mais cultas e zelosas pelo bem estar comum estão fazendo e fiquei muito feliz ao ler sobre a nova iniciativa do Governo da Califórnia, chamado de SMARTER Plan https://covid19.ca.gov/smarter/

  • S hots- As vacinas são a arma mais poderosa contra a hospitalização e doenças graves. De acordo com o Plano, a Califórnia manterá a capacidade de administrar pelo menos  200.000 vacinas por dia  , além da infraestrutura existente de farmácias e fornecedores.
  • Masks- Máscaras adequadamente usadas com boa filtragem ajudam a retardar a propagação do COVID-19 ou de outros vírus respiratórios. O estado manterá um estoque de  75 milhões de máscaras de alta qualidade  e a capacidade de distribuí-las conforme necessário.
  • A wareness- Continuaremos a ficar cientes de como o COVID-19 está se espalhando e evoluindo variantes, comunicar claramente como as pessoas devem se proteger e coordenar nossa resposta do governo estadual e local. A Califórnia manterá a capacidade de promover vacinação, mascaramento e outras medidas de mitigação em todos os  58 condados  e apoiará o envolvimento com pelo menos  150 organizações comunitárias.
  • Readiness: Prontidão- O COVID -19 não vai desaparecer e precisamos estar prontos com as ferramentas, recursos e suprimentos que nos permitirão responder rapidamente para proteger a saúde pública e manter o sistema de saúde bem preparado. O estado manterá a vigilância de águas residuais em todas as regiões e aprimorará a vigilância respiratória no sistema de saúde, continuando a sequenciar pelo menos  10% das  amostras de teste positivas para COVID-19. O estado também manterá a capacidade de adicionar  3.000  funcionários clínicos dentro de  2-3 semanas  de necessidade e em vários tipos de instalações de saúde.
  • T esting- Obtendo o tipo certo de testes – PCR ou antígeno – para onde eles são mais necessários. Os testes ajudarão a Califórnia a minimizar a propagação do COVID-19. A Califórnia manterá a capacidade de saúde pública comercial e local em todo o estado para realizar  pelo menos 500.000 testes por dia  – uma combinação de PCR e antígeno.
  • E ducação- A Califórnia continuará a trabalhar para manter as escolas abertas e as crianças em segurança nas salas de aula para instrução presencial. O estado expandirá em  25% os locais de vacinação nas escolas  apoiados pelo estado para aumentar as taxas de vacinação à medida que a elegibilidade se expandir.
  • R x- Evoluir e melhorar os tratamentos se tornará cada vez mais disponível e crítico como ferramenta para salvar vidas. O estado maximizará os pedidos para a terapêutica clinicamente mais eficaz disponível por meio de parcerias federais, garantindo que as alocações de terapêuticas eficazes sejam solicitadas  dentro de 48 horas .

Este plano prevê parcerias publico-privadas, com intuito de baratear custos, enfrentar as disparidades e universalizar o acesso de todos aos melhores recursos.

Como vão seguir em frente

O COVID-19 permanecerá conosco no futuro próximo. O Plano SMARTER se concentra em como gerenciamos essa realidade. 

Aprendemos muito nos últimos dois anos. Sabemos o que precisamos:

  • Minimize a pressão sobre o nosso sistema de saúde
  • Mantenha os funcionários e o público em segurança
  • Mantenha as empresas abertas e as escolas pessoalmente

Manteremos a Califórnia em movimento:

  • Aumentar as taxas de vacinação, especialmente entre as crianças
  • Garantir que possamos implantar rapidamente funcionários, equipamentos de proteção individual (EPI) e recursos para hospitais e comunidades 
  • Combinando rapidamente pacientes com tratamentos eficazes 
  • Rastreamento de casos para lidar com picos à medida que os vemos e identificar rapidamente novas variantes
  • Construindo nossa própria cadeia de suprimentos para testes e mantendo estoques de máscaras e EPI 

SMARTER baseia-se nos sucessos da Califórnia. É flexível por design para que possamos responder rapidamente à medida que o vírus muda.

Podemos avançar com a confiança de que podemos:

  • Responda ao que o COVID-19 tem reservado
  • Mantenha as pessoas saudáveis ​​e fora dos hospitais, o que manterá a Califórnia aberta

Tem uma forma de medir resultados que me pareceu interessante, alguns dos tópicos

Não sou entendido em Saúde Publica (alias sou entendido em muito poucas coisas), mas o plano me pareceu adequado, com uma nova estratégia para uma nova fase desta doença, onde possivelmente a forma de combate atual esteja se tornando obsoleta.

Quando leio esta plano varias das partes deles me parecem já estar sendo usada, mas não de forma integrada. Vou citar alguns exemplos:

Meu filho, que mora em NY, teve COVID e recebeu este contato da Prefeitura
Uma paciente, bem amiga, COVIDOU tb em NY e recebe esta mensagem, oferecendo acesso a medicação que reduz sintomas e previne hospitalizações

A Mais-Mais e eu estivemos em NY há cerca de 3 semanas. Fomos fazer uma surpresa ao nosso filho Gabriel pelo aniversario dele de 30 anos.

Felicidade do Gabi ao abraçar a mãe

Lá para entrar em ambientes fechados (Metrô, Farmácias, Supermercados, etc.) precisava estar de mascara. Em alguns locais (Restaurantes, Museus, Ópera, e outros) além da mascara precisava mostra identidade e prova de vacina. Esta atitude durou até haver um certo recuo da Ômicron.

Neste mesmo período um bom amigo estava em Miami e trocamos as mensagens abaixo e vejam que as determinações foram totalmente diferentes.

Neste momento minha intenção (sendo que sou plenamente vacinado e tive COVID, variante Ômicron em dezembro 21) é:

  1. Continuar a usar mascaras em ambientes fechados, com pessoas que não sejam do meu núcleo intimo
  2. Evitar aglomerados
  3. Se for a eventos sociais, em que não se é exigido teste de PCR-RT ou antígeno:
    1. Vou refletir muito se irei
    2. Se for ficarei de mascara
    3. Ficarei pouco tempo
  4. Quero voltar a viajar:
    1. Fui para NY, mas foi logo após ter tido a Ômicron, onde meus anticorpos estavam bem protetores (oxalá durem por muito tempo, mas como escreveu Vinicius de Moraes: “Que seja Eterno, enquanto dure”), mas estou inseguro de fazer aquelas viagens exóticas que eu tanto gosto.
      1. Tenho uma viagem paga há 2 anos, com 3 amigos para, o Salar de Uyuni
      2. E cade a coragem de ir?
Dicas do Salar de Uyuni - Deserto de Sal na Bolívia
Salar de Uyuni
  1. No Carnaval iremos com nossos queridos primos Ruth e Jefferson para uma praia em Alagoas chamada Japaratinga https://www.paraisodoscoqueirais.com.br/blog/japaratinga-conheca-tudo-sobre-este-paraiso-e-se-apaixone/ e espero que seja sem grandes agitos
  2. Quero voltar a ver as pessoas que me são caras, para NÃO falar do vírus, da economia, das eleições e sim dos livros, das comidas e até das bebidas (do que eu não entendo nada)

Assim me parece que a atitude correta neste futuro próximo, deverá ser um misto de:

  1. Períodos de maior relaxamento (quando estivermos em uma acalmia) alternando com períodos de restrições
  2. Uso de mascara de acordo com o movimento acima (eu pessoalmente vou usar muito)
  3. Continuar o programa de vacinas (e parece que alguns fabricantes já estão testando novas versões, mais bem adaptadas as variantes recentes, mas vejam o que acontece com a vacina da Gripe: quando surge uma nova variante, leva um tempo para se poder produzir em larga escala a vacina adequada)
  4. Tenho bastante esperança que com a liberação de testes que podem ser feitos pelo próprio paciente, possamos estar mais cientes de novos casos
  5. No entanto creio que ainda falta muita coisa, como:
    1. Educação:
      1. Vejo pessoas da elite usando mascara de forma errada
      2. Não vejo campanhas educacionais (como vi em NY)
      3. Aglomerações que me parecem exageradas
    2. Remédios:
      1. Nos EUA alguns antivirais estão sendo liberados (assemelhado ao Tamiflu para a Influenza)
      2. Pude acompanhar 3 casos de pessoas que tomaram o novo remédio da Pfizer (Paxlovid) e em pouco tempo estavam bem melhores

Paxlovid
  1. Conscientização:
      1. Creio que parte da nossa elite não tem a percepção de que os sistemas de saúde não tem capacidade de lidar com as demandas destes picos de Covid, pós festejos
        1. Até o advento da Ômicron minha equipe cuidou de cerca de 800 casos de COVID:
          1. Na media seriam 40 casos/mês
          2. Destes: 2 caos tiveram Covid duas vezes e 10% eram vacinados
        2. Nestes dois meses da Ômicron:
          1. Tivemos cerca de 260 casos (~130 casos/mes)
            1. 80 deles estavam tendo pela 2a vez e um paciente pela 3a
            2. Todos eram plenamente vacinados, com todas as doses e esquemas que possam imaginar
            3. Bum dia especifico tínhamos mais de 50 casos para gerenciar
      2. Uma paciente, com COVID e Síndrome do Pânico, de família proeminente, por falta de vagas no Einstein, ficou internada por ~10 dias, em um quarto numa tenda, sem janelas, construída na frente do prédio que leva o nome de meu pai
O quarto da Tenda

4. Capacidade de Atendimento:

  1. Se minhas informações não estiverem erradas, em certo momento cerca de 1.500 funcionários do Einstein estavam afastados por COVID
  2. No pico da pandemia o Einstein teve cerca de 300 pacientes internados num mesmo dia, na Ômicron chegou a ~260/dia
  3. Minha equipe internou cerca de 7 casos (façam suas contas e isto vai dar cerca de 2,7% dos atendidos foram internados

Portanto minha recomendação a todos é que neste carnaval sejam bastante comedidos nas suas exposições, aglomerados e outras coisas mais

Abraços a todos e bom, calmo e mascarado (com N95) carnaval

jairo

4 Replies to “Covid-19 – O que o futuro nos reserva? SMARTER 19/02/2022”

  1. Este post revela uma muito adequada e ampla reflexão e grande saber realista. Na minha pequena opinião, acredito que a base do enfrentamento das condições atuais está na evolução social e humana dos povos, um turning point cujo valor se mostrará com o o sábio passar do tempo.

    1. Fabio, meu irmão adotivo de 49 anos de coexistência

      Nas vezes que fui a Israel sempre fui ao Local em que Jesus fez o Sermão da Montanha (quem sabe seja um dos únicos locais onde realmente ocorreu um fato relatado na Bíblia, não que os demais fatos não tenham ocorrido, mas não se sabe bem a localização). Você se senta, olha o Mar da Galileia e lê este lindo sermão (veja bem, até um judeu cultural como eu sabe apreciar este lindo texto) escrito em vários idiomas.
      Este post no meu Blog de alguma forma me remete a este sermão, que sejam todos Bem-Aventurados de ver o fim desta pandemia
      Como curiosidade, em hebraico esta montanha é conhecida como Har HaOsher: Montanha das Bem-Aventuranças

  2. Jairo, Monod fez um livrão, o Acaso e a Necessidade. Se coloque no papel do nosso querido SARS 2 Covid: mutações são ao acaso, e a seleção natural seleciona as mais aptas, o que para virus são as que mais se espalham e mais hospedeiros arrumam. A infecção é mais contaminante nos 3 dias que antecedem a doença e nos 3 dias que se sucedem aos primeiros sintomas. O doente fica ruim lá pelo dia 7 após o inicio dos sintomas. Isto quer dizer que não há nenhuma seleção natural do virus para ser mais bonzinho…Aliás, quando o paciente está na UTI , pronado e na ventilação assistida, o virus raramente ainda é detectavel na secreção pulmonar e nasal, a menos que ele seja imunosuprimido. Tenho duvidas quanto a data em que ele some do sistema do paciente, se é que lá não fica em algum lugar – não temos dados para isto ainda. Há seleção natural sim para o virus encontrar outras espécies para hospedeiros. Gatos, cachorros – por enquanto. Seguramente vamos ter que conviver com ele como convivemos com os varios mutantes da Influenza.
    Paxlovid parece ser eficiente, mais que molpulnavir. Teus pacientes conseguiram Plaxvid como ? Vias oficiais ou métodos brasilicos de conseguir coisas que não existem por aqui ?

    1. Jacyr, minha alma gemea (e que lê muito mais que eu)

      Quem sou eu para responder a isto, mas tenho algumas considerações:

      1) Vejo no COVID-19 algumas semelhanças com algumas outras doenças virais, como a Mononucleose e o Sarampo, explico:
      A) Quando acometem crianças em geral são infeções “banais”, mas quando atingem adultos (e quanto mais velhos, é pior) o quadro pode ser bem mais grave (fico com uma certa sensação de que pelo desejo do “Criador” o COVID-19 seria uma doença a se ter quando criança, com poucas manifestações e uma imunidade razoavelmente duradoura).
      B) Este “Covid Longo” tem uma certa semelhança com o que ainda se vê em Mononucleose (Sarampo em adulto praticamente não existe mais, devido a vacinação), onde alguns pacientes ficam enfraquecidos por varios meses (lembre-se que a tal “Sindrome da Fadiga Crônica” para alguns autores é imputada ao Epstein-Barr Virus (causador da Mononucleose). Tem varias outras doenças relacionadas a este EBV, para o qual ainda não temos vacina eficaz (e uma serie de doenças parecem ser imputadas a este virus, desde cancer [Linfoma de Burkitt] e doenças auto-imunes [Esclerose Multipla].
      2) Em relação ao Plaxovid: foram pacientes que estavam nos EUA e obtiveram o remédio lá mesmo.

      Vc sabe a estória da India, em que um grupo de “deficientes visuais” se depara com um elefante e por palpação cada um descreve o que percebe:
      A) Um palpa a tromba
      B) Outro o Marfin
      C) Um terceiro o rabo
      D) E assim por diante

      Mas no final é tudo Elefante. É assim que acho que estamos lidando com esta doença

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