Caros,

Uso deste espaço para comentar sobre o feriado de hoje: Dia da Consciência Negra (no qual se celebra o aniversario de Zumbi dos Palmares). Apesar de entender a importância de se celebrar este tipo de data, creio que uma Sociedade será efetivamente madura, qdo não precisarmos celebrar data nenhuma (a necessidade de se ter uma data especial já indica a desigualdade da nossa Sociedade). Neste aspecto, gosto de pensar como a musica da Baby Consuelo (agora conhecida como Baby do Brasil):

“Pois todo dia e toda hora era dia de índio

Mas agora eles tem só um dia

Um dia dezenove de abril”

Já escrevi antes que creio que uma boa parte de coisas que em geral são valorizadas (p.e.: gênero, raça, religião, nacionalidade, beleza, inteligência e outras), na verdade não tem valor, pois não tivemos nenhuma participação na aquisição deste atributo. Sem querer ser ofensivo ou rude com ninguém, a über Model Gisele Bündchen não tem mérito maior por ter nascido bonita, ou eu por ter sido criado por uma família judia. Obviamente o que cada um fez do “quinhão” que recebeu tem enorme mérito. Seguramente a Gisele se cuidou, se aperfeiçoou, se sacrificou para chegar a posição que alcançou e merece todo o reconhecimento, mas se não tivesse nascido com os atributos certos, seu empenho não teria levado a este sucesso.

Eu nasci com muitos privilégios: Branco (é bem mais fácil); Em uma família culta e que valorizava o estudo); Tive a melhor educação possível em SP e Tive as melhores oportunidades (por exemplo trabalho em uma instituição onde o nome do meu pai, falecido há 40 anos, é louvado todos os dias). Se eu tivesse nascido no Vale do Rio Omo (na Etiópia, onde estive recentemente, onde moram pessoas que vivem a semelhança de tempos muito primitivos: Vivem de Pastoreio, em choupanas, sem nenhuma coisa do mundo moderno), possivelmente não teria saído daquela situação.

Minha família materna veio para o Brasil, da Ucrânia,  na época da 1ª Guerra Mundial, fugindo dos Pogrons (perseguição oficial do Império Russo contra os Judeus) e em poucos anos já estavam em uma situação econômica relativamente confortável (em 1924, houve uma pequena Revolução em SP, chamada de “Revolução Esquecida” https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_Paulista_de_1924; e minha família fugiu de SP para se refugiar na casa de parentes em Campinas, largaram suas casas abertas [lembrem-se que a memória dos Pogrons ainda estava fresca na memoria deles} e qdo voltaram semanas depois encontraram tudo intacto. Como o mundo mudou). Na minha interpretação pessoal meus avós conseguiram ter sucesso porque tinham um nível educacional acima daqueles do Brasil à época. Minha avó Regina era considerada uma pessoa muito culta, pois tinha cursado o Ginásio na Ucrânia (na Russia Czarista havia uma politica de “Numerus Clausus” https://www.jewishvirtuallibrary.org/numerus-clausus ,isto é, havia um numero fixo de judeus que poderiam ter estudos maiores (na época de minha avó cerca de 11% dos judeus podiam fazer ginásio). No judaísmo não existe analfabetismo a cerca de 3.500 anos, pois todo judeu precisa celebrar sua maioridade religiosa aos 13 anos (Bar Mitzva) rezando na frente de sua coletividade diretamente da Torah, que esta escrita em hebraico (para quem não sabe: Trata-se de um outro alfabeto, que se escreve da direita para a esquerda).

Samuel Huntington (que escreveu o livro clássico: “Choque de Civilizações”) editou um outro livro: “Culture Matters”, onde em um de seus capítulos mostra dados que certos povos (se bem me lembro eram: Coreanos, Japoneses e Judeus”) para onde emigraram se deram bem (e melhor do que a população local que os acolheu). Qual o mistério: Educação.

Voltando a questão do dia da Conciencia Negra, recentemente li um artigo sobre a vida de um judeu americano (Julius Rosenwald)  https://www.myjewishlearning.com/article/julius-rosenwald-hot-topic/que entre o final do século XIX e inicio fez uma enorme fortuna (ele foi a pessoa que fez a empresa de venda por catálogos Sears ter um enorme crescimento.

Influenciado pelo seu Rabino (frequentava uma Sinagoga Reformista) que em uma sermão em Yom Kippur de 1920s disse:

“As long as the weakest in humanity has not his own, civilization is only a sham and a pretender, and as long as civilization is a pretender, Judaism must stand alone as a historic protest against injustice.”

Rosenwald admired Hirsch and quickly absorbed his teachings on Tzedakah. Charity, Hirsch preached, “is not a voluntary concession on the part of the well-situated. It is a right to which the less fortunate are entitled in justice.”

Rosenwald buscou organizações que não estavam simplesmente suprindo as deficiências do sistema, mas sim aquelas que estavam trabalhando no “empoderamento” dos recipientes (o famoso “ensinar a pescar”)

Em 1910 suas inciativas filantrópicas estavam estabelecidas, porem ele leu a autobiografia de Booker T. Washington https://en.wikipedia.org/wiki/Booker_T._Washington (Up From Slavery”) e “acordou” para o que seria a tragédia do racismo.

Em 1911 Rosenwald, sua esposa e o Rabino Hirsch foram conhecer o que Booker Washington estava fazendo em Tuskegee, Alabama (lembrem-se que as Jim Crow leis eram a norma do sul americano). Em 1912, para celebrar seu 50º aniversario começou um movimento “Give While You Live” (vcs acham que a inciativa do Bill Gates e outros é novidade?).

Num artigo na Saturday Evening Post (para quem não sabe esta revista foi criada por Benjamin Franklin)  ele escreveu:

“I am opposed to the principle of storing up large sums of money for philanthropic uses centuries hence…. The generation which has contributed to the making of a millionaire should also be the one to profit by his generosity.”

Iniciou-se o processo de criação de escolas , para os negros americanos (The Rosenwald Schools of the American South) https://www.amazon.com/Rosenwald-Schools-American-Perspectives-History/dp/0813029570/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1264294629&sr=8-1. Nos anos 30 haviam mis do que 5.300 (isto mesmo cinco mil e trezentas) destas escolas.

Mas a história não termina ai. Rosenwald começou a dar fundos para o adversário ideológico de Booker Washington, W.E.B Du Bois https://en.wikipedia.org/wiki/W._E._B._Du_Bois , que se opunha a ideia de acomodação, mas que os “afro-americanos tinham de se empenhar para conseguir seus direitos políticos e legais. Em vez de escolher lados ele financiou os dois tipos de ações

Por desejo de seu fundador, que faleceu em 1932, o Julius Rosenwald Fund, se tornou a primeira fundação a deliberadamente gastar todo seu “endowement”

Eu pessoalmente acredito que a educação é a única força que transforma a humanidade e permite que as pessoas acendam de seu nível socioeconômico.

Há um comentário no texto sobre Maimônides https://en.wikipedia.org/wiki/Maimonides (Judeu Sefarad da idade média, foi um filósofo, Rabino e médico [por exemplo foi médico de Saladin, aquele que reconquistou Jerusalém dos cruzados) sobre os 8 niveis de caridade https://circle.org/jsource/maimonides-8-levels-of-charity-first-give-him-a-job/, vale a pena conhecer:

  1. Giving an interest-free loan to a person in need; forming a partnership with a person in need; giving a grant to a person in need; finding a job for a person in need; so long as that loan, grant, partnership, or job results in the person no longer living by relying upon others.
  2. Giving tzedaka anonymously to an unknown recipient via a person (or public fund) which is trustworthy, wise, and can perform acts of tzedaka with your money in a most impeccable fashion.
  3. Giving tzedaka anonymously to a known recipient.
  4. Giving tzedaka publicly to an unknown recipient.
  5. Giving tzedaka before being asked.
  6. Giving adequately after being asked.
  7. Giving willingly, but inadequately.
  8. Giving “in sadness” (giving out of pity): It is thought that Maimonides was referring to giving because of the sad feelings one might have in seeing people in need (as opposed to giving because it is a religious obligation). Other translations say “giving unwillingly” or “grudgingly.”

Boas reflexões a todos

Jairo

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