A Variola era uma doença devastadora, com enorme mortalidade. Só no século XX se calcula que mais de 200 milhões (isto mesmo MILHÕES) de pessoas morreram e possivelmente tenha sio a principal causa da relativamente fácil conquista do México pelos Espanhóis no Século XVI).
Quem sobrevivia ficava com cicatrizes deformantes para o resto da vida.
No dia 08 de Maio de 1980 o mundo comemorou a erradicação da Varíola, possivelmente a única doença em que se conseguiu tamanho feito (havia uma possibilidade de se conseguir isto com a Poliomielite, mas recentemente houveram novos casos).
Não é uma tarefa fácil se conseguir isto, pois em primeiro lugar é necessario que o vírus em questão não se modifique com facilidade (isto é não seja mutante) e que não haja um reservatório animal, como é o caso da febre amarela ou a raiva. Também é preciso haver uma vacina efetiva (que cause uma boa e duradoura imunização) e por fim que seja segura (não cause outros problemas).
No caso da varíola, alem de todos os fatores acima houve uma necessidade de um tipo de cooperação nunca vista anteriormente. Apenas para pontuar:
O projeto de erradicação da Varíola começou em 1967, em plena “Guerra Fria”, onde inimigos que nem se falavam, trabalharam juntos para eliminar este inimigo comum
Esta vacina surgiu em 1796 (vejam levou 200 anos depois de seu surgimento para conseguir se erradicar a doença), quando Edward Jenner percebeu que mulheres que trabalhavam na ordenha de gado e que tinham pego “Cowpox” (uma varíola bovina, que não causa muitos problemas em humanos) ficavam protegidas quando inoculadas com o vírus da Varíola humana.
Com a erradicação da Varíola resta uma estoque estratégico de vacina (con hecido como “Smallpox Vaccine Emergency Stockpile ou SVES) foi estabelecido com 2 componentes:
Um na Organização Mundial de Saúde
Outro em alguns países, como: Alemanha, Estados Unidos, França, Japão; Nova Zelândia (e creio na Russia) .
Há um eterno medo de alguma destas amostras caia na mão de Bio-terroristas.
Esta vacina era aplicada no ombro esquerdo, onde deixa uma cicatriz (no ombro direito ainda se aplica a BCG, que também deixa uma marca) e assim é possivel saber quem tomou qual vacina, apenas procurando a marca da vacina.
Eu pessoalmente me lembro de ser levado para vacinação, por meio pai (uma das “vidas” que ele teve foi trabalhar na Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, no Setor de vacinas, num Prédio que ficava na Avenina São Luis) e se “escarificado” com uma agulha bifurcada e era um bom sinal se a vacina “pegasse”, isto é ficasse uma marca.
Meu irmão nunca dava “pega” e levavam ele de novo para tomar nova dose (e quanto mais “fresca” a vacina, mais fé tinham que desta vez ia dar certo). Á época não sabiam que meu irmão já era imunizado e por isto não “pegava” a mesma.
As vezes lembrar deste “major achievement” pode ser bom em especial para os “anti-vaxxers”
Bom isolamento a todos
Excelente texto. Adoro o teu blog.
Pasca (meu colega 2 x)
Uma das razões pelo meu gosto por história é que sempre temos experiencias do passado para nos nortear o futuro.
Vou te relatar um “causo”: Eu era supervisor da “Terceirinha”(aquela enfermaria do 3o andar do Hospital São Paulo.
Um interno muito bom, chamado José Carlos Toledo (conhecido por Palestina) me chama para ver um paciente que ao exame fisico apresentava um “atrito” e “fremito”hepático. Chamei todos os nossos professores e ninguém sabia o que era. Vamos publicar
Cheguei em casa e peguei um livro de Propedeutica Médica do meu falecido pai, chamado Vieira Romeiro. Lá estava escrito que este sinal propedeutico ocorria na peri-hepatite gonocócica.
Caro Jairo. Muito bem lembrada essa data. Ressalto a importância da decisão política para que pudesse finalmente ser erradicada. A respeito da varíola participei de uma edição especial sobre esse tema nos Cadernos de Saúde Publica. Foi bem interessante trabalhar com cadernos de internação do IIER desde o final do seculo XIX. Segue a referencia: Ciênc. Saúde Coletiva vol.16 no.2 Rio de Janeiro Feb. 2011. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000200006. A varíola em São Paulo (SP, Brasil): histórico das internações no Instituto de Infectologia Emílio Ribas entre 1898 e 1970.
Abç. Pasca
Muito bom Jairo.
Apenas um comentário: quando houve o ataque terrorista de 11 de setembro, um amigo, professor já ido nos anos, morando em Boston, me ligou perguntando se o governo brasileiro ainda tinha estoque de vacina de variola porque ele tinha medo de um ataque terrorista. Exatamente como vc mencionou!
Enfim, quando o ser Humano se une por uma causa importante, milagres acontecem!
Gilles querido,
Obrigado pela resposta.
Tb gosto de pensar que este COVID será como 11 de setembro (antes e depois)
Postei este texto, pois se quisermos um mundo melhor, somo nós que temos de fazer esta tarefa
Abs virtuais