Humberto de Campos – Wikipédia, a enciclopédia livre

Humberto de Campos era o Poeta Predileto de meu falecido pai

https://www.ebiografia.com/humberto_de_campos/

Veio de uma família pobre no interior do Maranhão (num município que hoje leva seu nome) em 1886. Seu pai falece quando ele tinha 6 anos de idade e se muda para São Luis, onde começa a trabalhar em comércio para ajudar a subsistência da família.

Aos 17 anos se muda para o Pará, onde começa uma atividade jornalistica. Publica seu primeiro livro aos 24 anos, em aos 33 anos (em 1919) é eleito para a Academia Brasileira de Letras (cadeira 20). https://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm%3Fsid%3D221/biografia

Em 1920 começa uma carreira política, se elegendo Deputado Federal pelo Estado do Maranhão

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.do;jsessionid=EEF7DD2D764269DFD8799F810F8BE0A6

http://casas.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/

Humberto de Campos possivelmente sofria, pelo menos desde 1928, de Acromegalia (Tumor hipofisário produtor de Hormônio de Crescimento), que por acaso esta no campo das coisas que eu trato. Trata-se de uma doença insidiosa que tem 2 tipos de consequências:

Introduction - Centro Tumori Ipofisari
  1. Pelo crescimento do tumor, pode haver compressão de estruturas próximas causando perturbações, como por exemplo: Diminuição do Campo de visão lateral.
  2. O excesso de hormônio de crescimento, em quem já parou de crescer (isto é pós puberdade) leva a um crescimento de extremidades, de tecidos moles (como a língua), de glândulas (tiróide), do coração e outros. Não tratada leva a um desgaste prematuro dos órgãos e uma morte prematura

Na década de 30, não haviam nem métodos diagnósticos, nem terapêuticos adequados (só no final da década de 60, Jules Hardy no Canadá desenvolveu uma abordagem cirúrgica com bons resultados)

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A doença que mais o debilitou (e finalmente levou a sua morte) foi possivelmente uma obstrução urinaria, causada por aumento da próstata (um efeito do excesso de hormonio de crescimento só descrita nos anos 90).

Humberto de Campos já havia sido submetido a um procedimento anterior e parece que tinha de viver com uma sonda urinária de forme permanente (quem já usou isto sabe como é incomodo)

Em 1934 passou pelo Rio de Janeiro o Professor Alemão de Urologia Alexander Von Lichtenberg (era um proeminente urologista, especializado em “Dores da Bexiga e da Próstata” que fugia da Alemanha Nazista devido sua origem judaica. Creio que buscava um refúgio, pois depois foi morar no México).

https://urologichistory.museum/histories/people-in-urology/l/alexander-von-lichtenberg

O Professor Lichtenberg aceitou operar Humberto de Campos, havendo algumas peculiaridades

  1. No dia da cirurgia ele se despediu de seu filho caçula de 11 anos, que estudava em escola Interna (British American School)
  2. Na sala de cirurgia, na Casa de Saúde Dr. Eiras (a mais importante instituição médica de sua época) estavam personalidades ilustres
    1. Participaram da cirurgia os Drs. Samuel Kanitz; Elyseu de Almeida e Silva; Guilherme Vianna; Sinval Lins além do Urologista particular de Humberto, o Dr. Paulo Cesar de Andrade
    2. Como expectadores estavam: Clementino Fraga; José Maria Costa; Lionel Miranda; Haroldo de Freitas e José Dhalia da Silveira
  3. Foi anestesiado com Éter (era o que havia à época), sem entubação e ventilação mecânica
  4. Devido a Macroglossia (aumento da linguá pelo excesso de GH) a língua teve de ser pinçada e puxada para fora da boca, para que ele pudesse respirar
  5. A cirurgia é descrita como bem sucedida
  6. Pouco depois da mesma é descrito que ele tem uma síncope, é tentado sua reanimação (mas vamos lembrar que só em 1948 surgiram os primeiros protocolos de reanimação Cardio-Vascular).

Em vida, até o ano de sua morte (1934), Humberto de Campos era o escritor brasileiro mais lido, mais admirado, mais amado pelo público. A popularidade de Humberto de Campos era tão grande que no dia do seu falecimento, as portas do comércio do Rio de Janeiro fecharam-se em sinal de luto, sem que houvesse necessidade de decreto do governo. O luto não foi oficial, foi emocional. Mesmo sendo um homem infeliz, como se constata da leitura do seu “Diário Secreto”.

Como relatei no inicio aprendi sobre este Poeta com meu pai, que era médico Urologista e ao escrever este texto fico intrigado se sua opção de especialidade não poderia ter a ver com o que narrei acima. Não sei como foi seu processo de decisão (minha lembrança é que quando se formou, queria ser cirurgião e não haviam vagas no seu ano, então optou pela Urologia), no entanto meu pai tinha veneração pelo Presidente Juscelino Kubitschek, que era urologista.

Frases:

Prefira afrontar o mundo servindo à sua consciência, a afrontar sua consciência para ser agradável ao mundo!

A natureza é sábia e justa. O vento sacode as árvores, move os galhos, para que todas as folhas tenham o seu momento de ver o sol.

Definindo-se, a si próprio, no prefácio de suas Memórias, Humberto de Campos se dá como “um homem que fez sozinho a sua marcha desde as vizinhas do berço, e lutou, sozinho, contra todos os obstáculos de sua própria condição e contra todas as tentações que o assaltaram pelo caminho.” E ajunta: “Não cheguei muito alto, de modo a ombrear com os escritores notáveis do meu país, porque vim de muito baixo. Mas percorri maior distância do que eles, porque vim de mais longe.”

Se o mel não é tão doce, não culpes a abelha, que diligentemente colheu o néctar. Culpes a flor, por não ter produzido um néctar mais doce.

Poemas:

SEMENTE DO DESERTO


No alto sertão da minha terra
Cai, misteriosa, uma semente
Que a outras sementes move guerra.

onde ela nasce, de repente,
— Seara de mão cruel e ignota —
A relva murcha, suavemente.

E nas planícies onde brota,
E onde nem sempre é conhecida,
Toda a campina se desbota…

(Semente bárbara e remota,
Quem te semeou na minha vida?)

A Funda

O verso é a funda de uma ideia. À teia
Dos fios trá-la, sem calhaus, pendida;
Mas, se a tomares, que lhe emprestes vida,
E a tornes digna da atenção alheia.
Funda é o verso. Faiscando, balanceia
No ígneo cérebro a pedra incandescida;
E ao futuro, de súbito impelida,
Caminhando veloz, relampagueia.
O verso é a funda que uma ideia lança.
A pedra passa pela nossa frente
E no giro dos séculos não cansa.
E tu, que és perta e sonhador austero,
Lembra as pedras em funda resistente
Alto lançadas pela mão de Homero!

Com seu falecimento é eleito para sua Cadeira na Academia Brasileira de Letras o Sr. Múcio Leão, que em seu Discurso de Posse, como é tradição nesta casa, faz um relato da vida de Humberto de Campos.

https://www.academia.org.br/academicos/mucio-leao/discurso-de-posse

2 Replies to “Humberto de Campos – O Príncipe dos Poetas”

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