Meu texto sobre as Grandes Festas Judaicas (ou porque um judeu cultural quase agnóstico vai na sinagoga, reza, jejua e escreve estes textos)

Caros amigos,

Algumas vezes por ano (em geral na época das Grandes Festas Judaicas e do Ano Novo Civil) tento escrever um texto como uma forma de reflexão do período que está terminando.

A forma como aprendi meu judaísmo (que é mais cultural do que religioso) é que a vida gira em círculos e de tempos em tempos devemos “dar uma parada” e, como se fossemos um drone, avaliar à distância como temos conduzido a nossa vivência neste mundo complexo

Na crença judaica:

  1. 40 dias antes do Yom Kipur, começou um Julgamento Celestial para determinar o destino de cada um de nós neste ano vindouro. A sentença será promulgada hoje (25/09) no começo da celebração do Rosh Hashana (ano novo judaico e o dia do aniversário de Adão, pois hoje é o 6o dia da criação)
  2. A sentença não nos é revelada e temos 10 dias para apelar da mesma (até porque cada um de nós tem consciência dos seus atos)
  3. O Criador pode reverter esta sentença, com algumas peculiaridades:
  1. Ele pode perdoar os pecados cometidos contra Ele (D’us), mas não pode perdoar aqueles cometidos contra outras pessoas (só elas podem nos perdoar)
  2. O Criador pode perdoar através de três ações nossas:
    1. Arrependimento sincero; Boas ações; Orações

Os textos sagrados que usamos estão repletos de relatos de como D’us escutou as súplicas de Sarah e Chana e elas tiveram filhos (Isaac o segundo patriarca, e o Profeta Samuel), mesmo em idade bem avançada (e nem

havia “bebê de Proveta” naquela época, pelo menos eu acho), ou como Jonas emergiu da “baleia”, ou a cidade de Nineveh foi poupada de ser destruída.

Parece que houve uma época em que D’us se comunicava diretamente (ou semidireta), que as vezes eram por sonhos, por uma “Voz Divina (chamada de Bat Kol), além dos milhares de Profetas (que existem em todas as religiões que eu já estudei).

Na minha percepção estes dias já se passaram há bastante tempo. Não ouvimos mais estas mensagens divinas (e nos tempos atuais, alguém que eventualmente escute “Vozes”, pode ser interpretado como alguém que está “tendo um surto”).

Mas mesmo sem escutar respostas às nossas súplicas, uma boa parte das pessoas continua a ter suas crenças, a rezar e a tomar decisões baseadas em suas crenças religiosas (exemplo: as eleições que ocorreram na próxima semana, tem grande influência religiosa).

Tanto no Cristianismo, no Islam, quanto no judaísmo se termina uma oração com a palavra “AMÉM”, que significa do hebraico (esta palavra é composta pelas letras Alef-Nen- Num, que sintetizam a frase: Elochim Melech Neeman – Deus, Rei Fiel) : “Assim Seja”.

Então porque rezamos. Em hebraico a palavra é TEFILA, que tem duas dimensões:

  1. Julgar a si próprio: Muitos de nós (me incluo neste caso), quando rezamos estamos fazendo uma reflexão de autoavaliação. No Yom Kipur eu desnudo a minha alma para mim mesmo, abandono as ilusões, crítico a mim mesmo. Tento revelar a mim mesmo, quem existe debaixo de tantas “personas” que habitam no meu ser.
  2. No entanto a palavra Tefila tem uma raiz que se conecta com “subordinar, e aceitamos que existam coisas mais importantes que nós mesmos. Que coisas boas ou más podem e vão ocorrer com todos nós e que nem tudo está em nosso poder

Sob meu ponto de vista pessoal estas atitudes são parecidas com “Confort Food” https://en.wikipedia.org/wiki/Comfort_food (por favor, entendam que não tenho nenhum intensão de macular o que é Divino), mas participar destes ritos e rituais me trás uma sensação sentimental e Nostálgica de um tempo que já se passou. Me sinto perto de meus Pais, Avós e outros familiares queridos, que já partiram há muito tempo (e de quem tenho saudades imensas), me trás a lembrança festas e jantares em família

Me lembra uma musica da minha juventude que eu adoro> “Those Were The Days” que diz na sua estrofe principal:

Those were the days, my friend
We thought they’d never end
We’d sing and dance forever and a day
We’d live the life we choose
We’d fight and never lose
For we were young and sure to have our way

Como já fiz no passado, relato um pouco do ano que tivemos:

Coisas boas:

  1. Luci e eu conseguimos renovar nosso visto americano (foi uma epopeia), com isto conseguimos fazer uma surpresa para o Gabriel e aparecer em NY para o aniversario dele
  2. Vicky e Gabriel se formaram na Columbia University
  3. Vicky e Gabriel finalmente conseguiram fazer seu casamento religioso
    1. Foi desmarcado e remarcado quatro vezes
    2. Na nossa opinião foi uma festa memorável
  4. Ariel está indo bem na sua produtora de audiovisuais, mas é um mercado muito árduo.
  5. Gabriel conseguiu um belo emprego (em um banco de investimento em NY) e estão em um novo apartamento (bem mais confortável que o anterior)
  6. Em julho a Mais-Mais e eu conseguimos tirar férias magnificas no Mediterrâneo
  7. Minha equipe completou mais de 1.500 casos de Covid atendidos a. Não tivemos nenhum óbito
    b. Mas temos a nítida impressão de que esta doença foi em geral menos grave naquelas pessoas que estavam bem cuidadas antes de ficarem doentes
  8. Tive a honra de fazer a saudação na premiação que meu amigo e Chefe Rui Maciel recebeu da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabologia: https://mostlykind.com/homenagem-ao-prof-dr-rui- maciel/
Mais-Mais no casamento da Vicky e Gabriel (há uma tradição de os anfitriões da festa ficarem nesta cadeira
Formatura Gabriel em Columbia
Cara de Felicidade do Gabriel na surpresa que fizemos
Eu sou “Maria-Mole” e choro a toa (Casamento)
Mais-Mais e eu nas Ilhas Madalenas

Coisas não tão boas:

  1. A Mais-Mais, Ariel, Gabriel e eu tivemos covid (não simultaneamente)
    1. Eu fui um dos primeiros casos de contaminação comunitária (peguei sem viajar para o exterior em SP)
    2. Fui manchete de jornais: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/12/sa o-paulo-ja-registra-transmissao-comunitaria-de-omicron-diz- prefeito.shtml
    3. Felizmente estávamos vacinados e evoluímos bem
  2. A situação política do nosso país
  3. A Guerra na Ucrânia:
    1. Lembrem-se que minha família materna veio desta região (fugindo dos Pogroms). https://mostlykind.com/minha- percepcao-sobre-a-guerra-da-ucrania/
    2. A sensação de uma coisa obsoleta onde as coisas poderiam ter sido resolvidas de outra forma.

Gostaria de relatar uma história muito inspiradora que li durante este ano. Trata-se de como a Canção “Sound of Silence” de Simon & Garfunkel foi escritahttps://youtu.be/NAEppFUWLfc

Art Gafunkerl estudava na Columbia University (mesma faculdade onde minha nora e filhos estudaram) e lá ele conheceu um colega estudioso chamado Stanford Greenberg. A dupla rapidamente se tornou amiga íntima. Então, de repente, a tragédia aconteceu quando Greenberg estava assistindo a um jogo de beisebol e sua visão desceu em um borrão. Ele foi informado de que era apenas conjuntivite, mas quando ele perdeu completamente a visão, ficou claro que ele havia sido diagnosticado erroneamente.  Infelizmente, o glaucoma fez com que seu nervo óptico não funcionasse mais e Greenberg foi declarado cego. 

Ele se tornou recluso e deixou a faculdade em uma queda de depressão. No entanto, Garfunkel o quis de volta. Ele ofereceu um farol de esperança a Greenberg para mostrar que ele poderia ter perdido a visão, mas tudo não precisava perecer junto com ela. Assim, Garfunkel prometeu levá-lo às aulas, guiá-lo pelo campus e oferecer seu apoio constante. O cantor folk até adotou o apelido de Darkness como uma marca de empatia quando estava com seu amigo problemático.

No entanto, sabendo que seu tempo ao lado de seu amigo estava contado, Garfunkel fez questão de conduzi-lo à independência. Um dia, enquanto estava na Grand Central Station, Garfunkel teve que retornar urgentemente à universidade para uma tarefa que havia esquecido.

Isso significava que Greenberg foi abandonado na confusão agitada de Nova York em seu período mais movimentado. Apesar de chamar isso de “as piores duas horas” de sua vida, Greenberg perseverou e voltou para a universidade, onde Garfunkel agarrou seu braço e lhe disse que o exame era um ardil e que ele o seguira até em casa, parabenizando-o por seu desempenho. independência. 

Este conto mais tarde inspiraria as letras de Simon em torno da música. O hino folclórico é um guia em tempos difíceis, uma marca de empatia em meio à turbulência e um farol de esperança de que você não está sozinho – em suma, o mesmo apoio que Garfunkel ofereceu a seu amigo.

Um amigo que, no final das contas, ajudou a fazer o álbum. Um dia, Greenberg recebeu um telefonema de Garfunkel perguntando se ele poderia ajudar a financiar os US$ 400 que a dupla folk precisava para gravar seu álbum. Ele tinha apenas $ 404 em sua conta bancária, mas deu o valor total. O resto é um belo pedaço de história. 

Hello darkness, my old friend
I’ve come to talk with you again
Because a vision softly creeping
Left its seeds while I was sleeping
And the vision that was planted in my brain
Still remains

Within the sound of silence

In restless dreams I walked alone
Narrow streets of cobblestone
‘Neath the halo of a street lamp
I turned my collar to the cold and damp
When my eyes were stabbed by the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence

And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more
People talking without speaking
People hearing without listening
People writing songs that voices never share
No one dared
Disturb the sound of silence

“Fools” said I, “You do not know
Silence like a cancer grows
Hear my words that I might teach you
Take my arms that I might reach you”
But my words like silent raindrops fell
And echoed in the wells of silence

And the people bowed and prayed
To the neon god they made
And the sign flashed out its warning
In the words that it was forming

And the sign said, “The words of the prophets
Are written on the subway walls
And tenement halls
And whispered in the sounds of silence”

De qualquer modo, quero publicamente pedir meu sincero perdão a todos que eu tenha ofendido e tenham certos que desconheço qualquer ofensa que alguém tenha cometido contra mim (mas se alguém assim achar, estão todos perdoados)

Desejo que todos um Shana Tova Umetuka e que todos sejam inscritos no Livro a Vida.

One Reply to “Meu texto de Rosh Hashana e Yom Kipur 2022”

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