Minha mãe dizia que o “Einstein” era a amante dele, e eu muitas vezes quando precisava falar com ele eu ia procurá-lo no Hospital.
Nestes últimos dias 2 pessoas icônicas (e que de algum modo simbolizam esta instituição) nos deixaram e ficou uma imensa tristeza.
Não tenho nenhum mandato da Sociedade que administra o Einstein. Portanto, o que coloco são as coisas como minha memória lembra e meu coração sente a respeito
Joseph Y. Safra (ou como todos se referiam a ele “Seu José”):
Pessoas com muito mais propriedade que eu vão poder descrever muito sobe ele, vou me a ter a aspectos que eu tenha tido algum convivio:
O Chantilly
Há cerca de 50 a 55 anos atras meu pai foi num almoço na sede do Banco Safra, que ficava na Rua Augusta (se bem me lembro de onde hoje é o prédio da Comgás), quando ele voltou lembro dele ter tido:
Tivemos um maravilhoso almoço de carne Casher (sempre preciso lembrar que meus avós paternos já eram nascidos no Brasil e NADA religiosos) e de sobremesa havia Morangos com Chantilly. Pelo menos isto meu pai sabia, que pelas regras da Cashrut não se mistura carne com leite, na mesma refeição. Meu pai delicadamente pergunta ao Seu José e ele elegantemente responde, não é feito de leite. Apenas para reforçar estamos falando de uma data entre 1965 a 1970. Isto não era comum.
Viagem para Brasilia:
Alguns anos depois, em 1972, ia ser a inauguração do Einstein. Era Governo Militar. A Diretoria do Einstein resolve convidar o Presidente Medici para a inauguração. Conseguiram uma audiência e foi um pequeno Grupo para Brasilia, para formalizar o convite.
Foram para o Aeroporto de Congonhas (ainda não existia Cumbica) e algum problema ocorreu e o voo foi cancelado. Seu José, sem pestanejar fretou um jato executivo e lá foram eles para a audiência.
O convite foi aceito e o Presidente Medici veio para a Inaguração.
A filantropia:
Num destes encontros entre o Seu José e meu pai, ele se comprometeu a ajudar de forma significativa as obras do Einstein. Ao longo dos mais de 50 anos depois deste compromisso o Seu José e sua familia, nunca faltaram a esta instituição, que não teria alcançado seu esplendor sem o apoio de pessoas como ele.
Minha relação pessoal:
Quis o destino que muitos anos depois, eu pudesse retribuir um pouco ao muito que ajudou ao Einstein, e a muitos outras instituições.
Durante cerca de 20 anos pude de alguma forma contribuir nos cuidados a saude dele e de sua família. No meu intimo sinto que meu pai teria ficado feliz
Com muita tristeza eu o acompanhei na sua jornada final
Victor Schubsky:
Faleceu há 2 dias aos 97 anos de idade e creio ser o último dos “Sonhadores”que idealizaram o Einstein.
Não me lembro de minha vida sem a presença da Lila e Victor, que de alguma forma eram parte integrante da grande “familia”que idealizou e realizou o Einstein.
Minha lembrança é que o Victor nasceu no Rio Grande do Sul nas “Colônias” (vide abaixo)
Cursou Medicina na Escola Paulista de Medicina (a mesma Escola onde meu pai e eu nos graduamos) e fez uma longa carreira como docente na Disciplina de Cardiologia da mesma Escola (foi meu Professor em vários anos do curso).
Foi uma das pessoas mais conciliadoras que conheci, nunca o vi se exasperar e para mim, que nasci com o dom da irritabilidade (e perdi meu pai muito cedo) era sempre um “freio”do bem.
Tinha uma facilidade de cativar as pessoas e isto, aliado a sua competência permitiu ter uma das mais pujantes clinicas de sua geração.
Não era de vaidades e não buscava ter os “holofotes”em si. Certa feita, o Dr. Fèher, que sucedeu meu pai na Presidência do Einstein, lhe ofereceu a posição da qual ele declinou.
Durante décadas, aos sábados havia uma feijoada em sua casa, com um feijão que a Madalena, sua secretária de muito tempo trazia.
Minha definição pessoal de Sorte é: Estar preparado e ter uma oportunidade. Creio que esta geração aqui tão bem exemplificada por Seu José e pelo Dr. Victor tipifica isto muito bem. Um grupo sonhou e um grupo se propôs a financiar os mesmos.
Gente muito feliz
As Colônias Judaicas no Rio Grande do Sul: O Barão Hirsch, Judeu e Belga preocupado com a situação de populações judaicas no Leste Europeu (em especial sob o domínio do Império Russo) criou várias colônias agrícolas em várias partes do Novo Mundo (que eu saiba foram na Argentina, Brasil e Canada). No caso do Brasil foram estabelecidas quatro colônias no Rio Grande do Sul.
https://www.conib.org.br/comunidades/firs-federacao-israelita-do-rio-grande-do-sul/
MEUS PARABENS, COMO SEMPRE… PELA SINTESE HISTORICA E RELATO IMPORTANTE PARA QUEM NAO TEVE O PRIVILEGIO DE ACOMPANHAR TUDO DE PERTO… ABRACOS, FELIZ POR FAZER PARTE DESTA COMUNIDADE…
Ribas querido,
Obrigado pelo comentário. George Santayana escreveu: “Those who cannot remember the past are condemned to repeat it”
Esta é uma das principiais razões do meu interesse por história
Tive a honra de ser secretária do Dr. Victor Schubsky por 11 anos, foi simplesnente maravilhoso conviver com essa familia dna Lila,Marina e Márcio, sinto muitas saudades ,gratidão a todos.