27 de janeiro: Dia internacional de Memória do Holocausto

Antes de iniciar este texto, quero deixar bem claro que minha família e eu somos muito gratos ao Brasil, que nos recebeu fugindo de perseguições religiosas e aqui tivemos (e temos) as oportunidades de florescer, criar nossos filhos e viver em harmonia. Sem soberba, creio que a geração de meus pais, retribuiu ao Brasil a acolhida que tiveram.

Comemoração do dia 1º de Maio no Rio de Janeiro. Vejam alguns detalhes:
Bandeira Brasileira de um lado
Suástica e outros Símbolos Nazistas de outro Escrito em alemão: Trabalho (Arbeit) e Paz (Friede)
O dirigível Graf Zepelim (orgulho da tecnologia Nazista) no céu

A ONU estabeleceu que no dia 27 de janeiro de cada ano seja lembrado como “Dia Internacional da Memória do Holocausto”, sendo que esta data foi escolhida por ser a data de liberação do campo de extermínio de Auschwitz – Birkenau.

Para a maior parte de nós brasileiros, estes eventos horrorosos fizeram parte de algo alheio a nossa cultura e tradições, e nada deste tipo de coisas jamais ocorreria em um país de imigrantes como o nosso. Mas se nos determos de forma um pouco mais detalhada, vamos ver que o espírito Nazifascista, com suas várias manifestações andou por estas terras tropicais, e causou problemas.

Como sempre vamos a um pouco de história:

Fim da República Velha e Getúlio Vargas toma o poder:

Em 1930 (lembrar que isto ocorre logo após a Crise da Bolsa de Nova York em 1929, onde a economia estava em frangalhos), após uma eleição que (como é frequente) teve suspeitas de fraude.

Houve um Golpe de Estado (a tradição do Brasil não é revolucionária, mas sim de Golpes Conservadores, isto é, quem está no poder da um Golpe, para continuar no poder) e Getúlio Vargas (candidato derrotado nas eleições) torna-se Chefe de um Governo Provisório, com amplos poderes.

Getúlio abole a constituição de 1891 e passa a governar por decretos e nomeou Interventores para governar as Províncias (como eram chamados os Estados à época), com a promessa de convocar uma Assembleia Constituinte, o que era sempre adiado.

Este eterno adiamento é uma das razões da Revolução de 1932, liderada pelo Estado de São Paulo, e celebrada na data de 9 de julho.

A Nova Constituição de 1934

Getúlio se vê obrigado a convocar uma Assembleia Nacional Constituinte que elabora uma nova Constituição, promulgada em 1934. Esta tinha influências do que estava ocorrendo na Itália (Mussolini) e Alemanha (Hitler). Foi a Constituição de duração mais efêmera que o Brasil teve.

O Estado Novo:

Pela nova Constituição em 1938 deveria haver novas eleições Presidenciais, mas em setembro de 1937 o Governo de Getúlio denunciou a existência de um Plano Comunista de tomada do Poder, que ficou conhecido como “Plano Cohen” (Cohen em hebraico significa Sacerdote e estes são os descentes de Aarão, o irmão de Moises, que tirou os hebreus da escravidão no Egito). Posteriormente se identificou que era “Fake News”

No dia seguinte o Congresso Nacional declarou Estado de Guerra” e em 10 de novembro Getúlio de um novo “Golpe de Estado”, estabelecendo o Estado Novo, que entre outras coisas:

Fechou o Congresso

Outorgou uma nova Constituição, que conferia poderes plenos ao Executivo (por ter sido inspirada na Constituição Polonesa da época, ficou conhecida como “Polaca”)

Foi estabelecida Censura aos meios de comunicação

Criação do Departamento de Imprensa e Propaganda

Este periódico tentava driblar a censura imposta pela DIP, sendo que proprietários e Diretores foram presos e exilados

Em 24/03/1940 o Governo do Estado Novo invade o jornal e o expropria da Família Mesquita, o mantem funcionando, porém com uma pauta pró governo.

O periódico só é devolvido à família Mesquita em dezembro de 1945

Meios repressivos de controle da população foram implementados, entre eles a Tortura. Se estima que 5.000 pessoas tenham sido mortas.

Há vários casos de estrangeiros indesejáveis que foram deportados, alguns para a Alemanha Nazista e lá foram mortos.

Proibida a emissão de visto de em imigrantes para: Ciganos; Japoneses, Negros e Judeus, pois colocavam em risco a criação da raça e da brasilidade. Seriam aceitos apenas “Bons” imigrantes (baseado em critérios étnicos e ideológicos).

Foi proibida a transmissão de programas de radio e imprensa em idiomas estrangeiros

Também foi proibida a participação de estrangeiros em atividades políticas, direito de associação; falar idioma estrangeiro em locais públicos, ou alfabetizar crianças nestas línguas.

Foram estabelecidas cotas de imigração, com exceção aos Portugueses.

Bens de estrangeiros foram expropriados e em certos casos até hoje não foram indenizados (colônia Japonesa)

Documento de Identidade de minha Bisavó Materna de 1943 Esta escrito que ela era isenta de Salvo-Conduto para se deslocar

No Estado Novo foram estabelecidos 31 destes “Campos” onde cerca de 5.000 estrangeiros considerados inimigos, foram confinados.

Eram obrigados a trabalhos forçados na lavoura

Militar que participou ativamente da Política e de tentativas de

Golpes de Estado.

Foi Chefe da Polícia do então Distrito Federal (hoje Cidade do Rio de Janeiro) e se imputa a ele mais de 20.000 Prisões e vários casos de tortura

Também foi o responsável pela prisão e deportação de Olga Benário (esposa de Luís Carlos Prestes) e que foi executada em Câmara de gás no campo de extermínio de Bernburg.

Veio a falecer na queda do Avião da Varig nas proximidades de Orly em 1973 e na época era Presidente do Senado Federal.

Foi Ministro das Relações Exteriores do Estado Novo (1938-1944) e

segundo a Historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro (vale a pena ler seu livro “O Antissemitismo na Era Vargas) foi um colaborador ativo do Governo Vargas, conivente com o plano de extermínio nazista.

Durante sua gestão na Chancelaria foram emitidas Circulares Secretas proibindo a emissão de vistos de entrada no Brasil de Judeus (lembrem-se que o programa de extermínio dos Judeus pelo Governo Nazista estava em plena marcha, culminando com o assassinato de 2 de

cada 3 judeus europeus). O próprio Vaticano teve negado seu pedido de vistos humanitários.

Por uma destas ironias do destino coube a Aranha presidir a Sessão da ONU onde foi aprovada o plano de Partilha da Palestina, que permitiu a criação do Estado de Israel (é preciso lembrar que os Palestinos e demais nações árabes optaram por não criar um Estado Palestino).

Foi por acaso que o Oswaldo Aranha presidiu esta Assembleia:

Com o fim da Ditadura do Estado novo Oswaldo Aranha entrou em período de ostracismo.

Em janeiro de 1947, estava nos EUA, por razões privadas, quando foi surpreendido pelo inusitado convite de assumir o lugar Embaixador brasileiro na ONU que havia falecido subitamente.

Por uma questão de rodízio, caberia ao Brasil a Presidência do Conselho de Segurança deste Organismo.

Em abril de 1947 o Reino Unido pediu uma convocação de uma Assembleia-Geral Especial para tratar da questão da Palestina.

Aranha foi novamente acionado e assumiu a presidência dos trabalhos.

Sua atuação foi muito importante para a aprovação do Plano de Partilha.

Foi um militar brasileiro, envolvido em inúmeras tentativas de Golpes, sendo que possivelmente tenha sido um dos mais importantes elementos da deposição do Presidente João Goulart:

Mourão comandava a Divisão de Infantaria da 4ª Região Militar em Minas Gerais e na madrugada de 31 de março de 1964 ordenou o deslocamento dos Blindados para o Rio de Janeiro, iniciando este Golpe de Estado

Porém no caso que nos interessa, este General, à época Capitão, e Chefe do Serviço Secreto da Ação Integralista Brasileira, por ordem de Plinio Salgado escreveu o apócrifo documento, conhecido como “Plano Cohen” que levou a decretação do Estado Novo

Era Embaixador Brasileiro na França e contrariando as ordens do Governo do Estado Novo, emitiu mais de 500 vistos para pessoas em risco de vida pelo Nazismo.

Chefiava a seção de Passaportes do Consulado Brasileiro em

Hamburgo (Alemanha) e conseguiu emitir um numero significativo (mas não sabido) de vistos para Judeus.

Era esposa do Escritor e diplomata Guimarães Rosa

Nasser era Jornalista de origem Libanesa (entre outras coisas é o autor da música: “Nega do Cabelo Duro”, que hoje não é politicamente correto) e Manzon, Fotografo e Cineasta, de origem Francesa, entre outras coisas trabalharam na mais importante revista brasileira de sua época, chamada de “O Cruzeiro” ,editada pelo icônico Assis Chateaubriand.

Nesta revista publicaram uma série, que depois virou livro, intitulada “Falta alguém em Nuremberg” sobre as atrocidades cometidas por Filinto Muller.

Entre 1920 e 1930 a população Judaica no Brasil triplicou (em 1924 os EUA proibiram a imigração de pessoas oriundas do Leste Europeu) motivados por alguns fatores:

  • Revolução Russa (e os Pogroms na época do Czar)
  • Quebra da Bolsa de NY em 1929 e o caos econômico
  • Horrores da Grande Guerra (só passou a ser conhecida como 1ª Guerra Mundial, quando ocorreu a 2ª).
  • Ascensão do Fascismo e suas leis raciais

Sem terem experiencia agrícola (os judeus não podiam ter terras no velho continente) tiveram como atividade econômica o pequeno comércio e o comércio ambulante (Simpson Feffer, meu Bisavô Materno foi Mascate, viajando em “lombo de Burro” pelo interior do Mato Grosso

  • Concorriam com “Brasileiros” já estabelecidos
  • Suas atividades econômicas não eram consideradas “produtivas”.
  • Há uma tradição milenar na comunidade judaica de se criar uma espécie de “Rede Social de Apoio” contemplando:
    • Ajuda de moradia
    • Ajuda para emprego
    • Escola
    • Atividades religiosas etc.

Apenas como exemplo: Quando Mauricio Klabin (fundador das Industrias Klabin) chegou a São Paulo, oriundo da Lituânia, se hospedou na casa de meu Bisavô paterno (Meyer Goldstein)

Para não perderem sua identidade judaica se mesclavam menos com o restante da população brasileira. Isto ia contra a ideia do Estado Novo de ter uma “Identidade Brasileira”.

Vários ideólogos da Ação Integralista (Gustavo Barroso é uma mais destacados) tinha uma posição antijudaica e de alguma maneira (como no Plano Cohen) davam suporte as ações do Estado Novo. Gustavo Barroso, um dos mais destacados pensadores deste movimento disse:

“A questão judaica não é, como pensa muita gente e como muitos judeus se esforçam por espalhar, uma questão religiosa ou racial. É uma questão política. Ninguém combate o judeu porque ele seja da raça semita nem porque siga a religião de Moisés. Mas sim porque ele age politicamente dentro das nações, no sentido dum plano preconcebido e levado por diante através dos tempos.”

Apesar de Vargas e o Estado Novo terem um certo pendor pelo nazifascismo ele tentava obter vantagens tanto da Alemanha Nazista, como dos EUA (esta política foi denominada de “Equidistância Pragmática”). Esta dualidade também se expressava em relação aos judeus:

Criou barreiras para novos imigrantes

Estimulava a integração dos que já estavam aqui a “Grande Nação Brasileira”.

Como política de Estado do Governo Nazista, foram criadas “filiais” deste movimento em 83 países do mundo, com cerca de 30.000 afiliados. O Brasil foi o país com maior partido Nazista fora da Alemanha, com cerca de 3.000 afiliados

Segundo escritos do diplomata Sérgio Corrêa da Costa, o nazismo alemão planejou desmembrar o Sul do Brasil e nele construir uma nova Alemanha.[43] O projeto não seria novo, porém, já existindo anteriormente. No seu “Gross Deutschland, die Arbeit des 20. Jahrhunderts (“A Grande Alemanha, obra do século XX), publicado em Leipzig, 1911, Tannenberg estabelece o princípio da repartição das Américas Central e do Sul entre as grandes potências imperialistas, reservando para a Alemanha a zona subtropical banhada pelo Atlântico:

 América meridional alemã nos proporcionará, na zona temperada, um espaço de colonização onde nossos emigrantes conservarão sua língua e autonomia. Exigiremos, porém, que o alemão seja ensinado nas escolas como segunda língua. O Sul do Brasil, o Paraguai e o Uruguai são países de cultura alemã. O alemão passará a ser a língua nacional

Da Costa atribui a seguinte frase a Adolf Hitler: “Criaremos no Brasil uma nova Alemanha. Encontraremos lá tudo de que necessitamos”

Berthold Brecht, escreveu uma paródia sobre Hitler e o Nazismo, intitulada: “A Resistível Ascensão de Arturo Ui”. Ela termina com a seguinte frase: “E todos se uniram para destruir o canalha, mas a semente que o gerou ainda permanece entre nós”.

George Santayna, disse: “Aqueles que não se lembram do passado, estão condenados a repeti-lo”.

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