“The wild, cruel beast is not behind the bars of the cage. He is in front of it.”

Este é um dos livros (quem sabe junto com “A Cidadela” de A.J. Cronin), que todo estudante de ciências da saúde (em especial Medicina) devem ter lido. Trata-se de um livro atípico, numa espécie de autobiografia, de uma pessoa incomum. Munthe foi médico, escritor, politico, linguista, colecionador de arte, contador de histórias e diplomata. Ele estava aonde a história “foi feita”, quando foi feita e de algum modo ajudou a faze-la. https://en.wikipedia.org/wiki/Axel_Munthe

Munthe é um precoce e brilhante filho de um Farmacêutico Sueco, que estudou Medicina em Paris (em 1880 se tornou o mais jovem Médico da França, aos 22 anos), onde foi aluno de Charcot (um dos mais importantes Neurologistas e precursor da Psiquiatria, de quem Freud também foi aluno). Como curiosidade, Charcot estava no leito de morte do Imperador D. Pedro II e foi ele quem assinou seu certificado de óbito. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Martin_Charcot

Em torno de 1890 ele já era mundialmente famoso, pelos sua capacidade de cura (alguns até achavam ser super-natural) . Entre seus pacientes estavam membros da aristocracia e dos ricos da Europa e da América. Ele frequentava os circuitos mais cortejados do “fin de siècle” e seu círculo de amizades incluía: Henry James, Howard Carter, Rainer Maria Rilke, Graf Von Zeppelin, Guy de Maupassant. Há fortes suspeitas que ele e Victoria, Princesa Real (e futura Rainha Consorte) da Suécia eram amantes.

Por outro lado Axel Munthe tinha uma atenção especial pelos pobres e cada vez que alguma tragédia (terremoto, epidemia, etc.) acontecia ele largava tudo e ia atender os menos favorecidos

Em 1875, durante suas férias ele velejou de Sorrento (na Baía de Napoles) para a Ilha de Capri, lá ele se apaixonou por uma antiga capela “San Michele”, em Anacapri, que foi erguida nas ruínas de um antigo palácio do Imperador Tibério. https://pt.wikipedia.org/wiki/Tib%C3%A9rio

Em 1884 Munthe vai para Nápoles para ajudar numa epidemia de Cólera, os relatos que ele publicava nos jornais lhe deram fama instantânea

Em 1895 ele compra as ruínas de San Michele e ao longo das próximas décadas ele empreende um enorme projeto de construção que hoje resulta na belíssima Villa San Michele, que merece uma longa visita: https://villasanmichele.eu/

Up here, you can really feel the sun and the wind, and hear the voices of the sea

Este maravilhoso livro narra de forma agradável sua vida, alternando períodos em que ele abandona a vida de luxo para cuidar dos pobres, ou volta para sua amada Anacapri.

Há narrativas muito interessantes como quando ele faz o “contrabando”do cadáver de um Sueco que morre na Alemanha, de volta para sua terra natal, ou uma descrição de sua viagem a Lapônia.

Eu li este livro ainda no Curso Científico (era assim que se chamava o segundo grau) e eu me sinto um pouco como Munthe. Adoro medicina e a capacidade de poder ajudar aos outros, mas também por vezes tenho uma vontade de abandonar tudo e ir conhecer uns “fins de mundo”, ler meus livros, conhecer pessoas com vivências diferentes das minhas. No fundo quem sabe eu seja um amalgama destes meus autores prediletos.

Axel parece ter sido uma pessoa egoísta (nem tudo é admirável nas pessoas que admiramos) e tinha mais preferencia pelos animais, do que pelos humanos. A dedicatória do livro bem revela isto: “A Sua Majestade, a Rainha da Suécia, Protetora dos animais maltratados e Amiga de todos os cães.”

O Livro de San Michele foi editado a primeira vez em 1929, e foi um sucesso imediato, publicado em inúmeros idiomas.

Axel Munthe passou os ultimos anos de sua vida como hóspede da familia real Sueca e veio a falecer aos 91 anos e idade.

“The Soul needs more space than the body.”

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