A célebre dupla de cantores americanos Simon & Garfunkel lançou em 1965 a musica “The Sound of Silence” (o som do silencio), onde uma das estrofes tem a frase do titulo desta coluna. Esta é a sensação que tenho nestes tempos de COVID, onde todo mundo esta postando alguma coisa (onde creio na maioria das vezes nem entenderam bem do que se trata, mas postam mesmo assim, mesmo eles mesmos não lerem a maior parte dos posts que recebem).
Sou um médico clinico, formado a 41 anos, de um tipo que esta desaparecendo: cuido das mesmas famílias e pessoas há décadas (tenho o privilegio de ainda atender a família do primeiro paciente, que me procurou há mais de 35 anos atrás). Tento ajuda-los nos tempos bons e ruins, acompanho nascimento de filhos e netos e vou aos seus velórios. Conforme John Donne escreveu em seu magnifico poema “Por quem os sinos dobram”: Nenhum homem é uma ilha isolada. A morte de qualquer homem me diminui, pois sou parte do gênero humano.
Nesta epidemia de COVID tenho, como tantos outros profissionais de saúde, de lidar com o desconhecido (ninguém foi treinado para isto). Sou um covarde, que em todos os momentos precisa vencer o medo. O ato de coragem esta em vencer o medo, quem não o tem, é destemido e por vezes pode ser imprudente.
Neste momento acompanho algumas dezenas de pacientes acometidos pelo Covid-19. Felizmente a grande maioria em regime de isolamento domiciliar, mas acompanho um razoável numero internados e três em ventilação mecânica. Creio que não seja imaginável a dificuldade desta situação: Não posso passar visita nestes pacientes. Só a equipe interna do MAGNIFICO hospital em que eu trabalho, pode estar com eles (eu pelos meus 65 anos de idade, sou grupo de risco) e estes não têm muito tempo para nos passar dados.
Tenho de me basear em informações que não foram colhidas por mim (a arte da Medicina, como eu aprendi, depende de se tirar uma boa história do paciente, um detalhado exame físico, a formulação de uma hipótese diagnostica e ai solicitar exames que vão suportar ou não esta hipótese).
Tenho de dar suporte aos pacientes em isolamento (chorei copiosamente quando uma destas pacientes, que é também uma amiga muito querida, no momento em que precisava ser entubada, me mandou uma mensagem por aplicativo, dizendo: “Estou com muito medo”), tenho de lidar com as apreensões dos familiares, que não podem estar em contato com seus entes queridos e as informações são esparsas.
Volto para casa no final do dia exaurido, mas sem ter visto um só paciente “tête a tête”, com medo de estar levando esta “praga” para casa. Dispo-me antes de entrar em casa, corro nu para um banho demorado, na presunção de me livrar deste vírus e não contaminar meus familiares.
À noite não durmo.
Jairo, precioso o registro do lado humano do médico q vc é! Compartilhar o medo, a insônia, a empatia com uma amiga … é uma atitude q ajuda a todos nós q estamos vivendo os desafios desse momento surreal!