Tomando “Vacebo” ou “Placina”

Caros amigos,

O saudoso Professor Arnaldo Caleiro Sandoval, cunhou a seguinte frase: “A Medicina é a Ciência das Verdades Transitórias, Transformadas em Leis para Fins Didáticos”.

Com a velocidade com que novos conhecimentos vão sendo produzidos na COVID-19, é possível que amanhã este texto já esteja obsoleto.

À medida que se aproxima o fim deste “Annus Horribilis”, vários amigos e pacientes me pedem que lhes prescreva um “Kit COVID-19”, para se protegerem durante suas férias.  Parte desta situação é que tenho famílias que ajudo há cuidar há muitas décadas (tenho algumas com 35 anos de jornada) e pelo fato de já ter cuidado de mais de 300 casos desta virose (é um número gigantesco, para o tipo de clínica que eu tenho)

O “Kit COVID-19” que eu conheço é relativamente simples:

  1. Acreditem na Ciência (aquela que está publicada nas principais revistas médicas), que mesmo com todas suas incertezas é o “Melhor que temos para o momento”.
  2. Não existe nenhum fármaco preventivo desta infecção, incluindo: (Hidroxi)Cloroquina, Ivermectina, Zinco e outras.
    • Algumas pessoas, em usando estes “pretensos preventivos”, podem acreditar que estão protegidas e com isto relaxarem nas verdadeiras ações que tem que ser tomadas.
  3. Na minha opinião, as ações que DEVEM ser tomadas neste momento são:
    1. Refletir muito bem sobre:
      • O que vão fazer?
        • Ir para uma casa isolada é diferente de ir para um Resort
        • Vai ter aglomerado?
        • Vão usar máscara e respeitar o distanciamento social?
      • Com quem vão fazê-lo?
        • Uma coisa é viajar com seu núcleo familiar (que pratica o mesmo nível de cuidado).
        • Outra é estar com pessoas que não se protegem.
        • As pessoas que estarão com vocês:
          • São capazes de respeitar as regras que o momento exige?
          • Tem alguma comorbidade, que os coloque em risco maior?
      • Como planejam fazê-lo?
        • Vão de avião?
        • Vão usar máscara?
      • Suas ações podem causar danos maiores a outros:
        • Todos conhecem casos em que alguém que se “saiu bem” da COVID-19 acabou não intencionalmente contaminando alguém que não teve a mesma sorte
    2. Se algo der errado, qual seu plano de contingência?
      • Não me entendam mal (tenho apreço por todos), mas ligar para seu médico, quando ocorrer algo não é contingência.
        • Vou citar meu exemplo pessoal:
          • Vamos viajar no Natal (há alguma vantagem em ser judeu)
          • Para um Canyon no interior do Rio Grande do Sul
          • Seremos 3 casais, muito íntimos que se cuidam
          • Vamos de carro
          • Vamos ficar em chalés individuais
          • Estarei há cerca de 2 hs de um dos mais importantes centros médicos do país.
        • O Ano Novo, (com mais aglomerado) vamos passar reclusos em nossa casa em Atibaia (uma vez que vendemos Paraty neste ano)
      • Este plano de contingência deve incluir:
        • Se alguém ficar doente (ou suspeito) como vão isolá-lo dos demais?
        • Como deslocá-lo para São Paulo (ou sua cidade de origem)?
        • Cito um exemplo: os sistemas de remoção só fazem transporte, somente se houver garantia de que há vaga disponível no hospital de destino
        • Pela primeira vez em meus 42 anos de Einstein há duas semanas eu não consegui vaga para um paciente.
  4. Qual é o KIT COVID-19?
    1. USE MÁSCARA DURANTE TODO O TEMPO EM QUE ESTIVER EM AMBIENTE FECHADO, COM PESSOAS QUE NÃO SEJAM DO SEU NUCLEO ÍNTIMO (e que estejam se cuidando)
    2. NÃO FAÇA REFEIÇÕES OU TOME LÍQUIDOS EM AMBIENTES FECHADOS, ONDE TEM OUTRAS PESSOAS. A menos que vocês saibam comer e beber de máscara
    3. Respeitar o distanciamento social.
      1. Muita atenção, muita gente erroneamente acham que se juntar com amigos em eventos sociais é seguro
      2. NÃO É. A QUASE TOTALIDADE DOS NOVOS CASOS QUE ESTAMOS VENDO VEM DE SITUAÇÕES DESTE TIPO.
    4. Seguir as recomendações de cuidados:
      1. Lavar as mãos
      2. Usar álcool gel
  5. Sempre busquem informações em sites confiáveis, sacramentado por entidades cientificas, sugiro:
    1. Dra. Natalia Pasternak
    2. Atul Gawande
    3. Brigham and Women’s Hospital
    4. Vida Saudável
    5. Sociedade Brasileira de Infectologia
    1. Minha percepção pessoal:  Escutem com prudência as opiniões de pessoas que fazem vídeos e posts sobre tratamentos espetaculares.
    2. Por fim, é muito importante estarem cientes que quando vocês postam ou repassam uma mensagem estão emprestando sua credibilidade a mesma. Se o conteúdo não for verdadeiro, a sua reputação pode sair maculada.
  6. E se vc tiver sintomas sugestivos de poder estar com COVID-19:
    1. Não se desespere e lembre-se que existem outras afecções das vias respiratórias.
    2. Se isole de verdade (a pessoa é mais contagiante nos primeiros dias da doença).
    3. O começo da doença é tranquilo e aqueles que tem a forma mais grave em geral a manifestam entre o 7 e 10º dia, isto é, há tempo de tomar as medidas devidas.
    4. Avise seus contactantes (pessoas que vc possa ter exposto), para tb se isolarem.
    5. Não adiante fazer exame de PCR-RT logo no início. O correto é fazer em torno do 4º a 5º dia.
    6. Contate seu médico de confiança, mas:
      • Lembrem-se que estamos todos exauridos depois de quase um ano desta
      • Não temos como criar leitos, conseguir exames mais rapidamente. Somos apenas médicos.
      • Cada pessoa TEM QUE SER RESPONSÁVEL PELA SUA SAÚDE e ser solidário com os demais.
    7. Medicação: Consultei o site do Brigham’s & Women’s Hospital de Boston (atualizado em 03/12/2020). Não há NENHUM remédio comercializado no Brasil, cientificamente comprovado, que faça alguma diferença.
      • A Ivermectina tão comentada, precisaria ser dada numa dose 35 vezes maior do a habitual para ter alguma atividade antiviral.
      • Azitromicina: se não tiver evidencia pneumonia tb não tem indicação clara
      • Cloroquina: me recuso a comentar
      • Suplementos:
        • Vitamina C e Zinco: sem utilidade
        • Vitamina D: Há alguma sugestão de que estar com este hormônio em níveis adequados pode ser útil (mas nas doses de reposição fisiológica)
      • Existem alguns remédios nos EUA, que podem a vir a ter algum papel.
      • Quase todos os dias é postado alguma novidade sobre algum remédio milagroso sobre esta doença.
        • Ontem (13/12/2020) recebi várias indagações sobre o “Molnupiravir”
        • Oxalá um destes remédios venha a “cumprir o seu destino”, até lá:
        • Minha maneira de pensar é como está definida na nota do Dólar Americano: “In God We Trust” e “The remaining of You have to Show Data”
  7. E se vc já teve COVID-19: Creio que todos já sabem a resposta
    • Não sabemos o tempo que vai durar a imunidade dada por esta infecção
    • Existem vários relatos (inclusive no Brasil) de reinfecção (alguns com gravidade)
    • Não estamos totalmente seguros se uma pessoa que já teve COVID-19, estando imunizada, não possa transmitir o vírus para outros
    • Portanto, as recomendações de precaução continuam válidas para quem já teve o vírus.
  8. Recorrência da COVID-19
    • Em vários locais do mundo está ocorrendo uma enorme recorrência (ou o nome que quiserem dar) da COVID-19. Eventualmente as pessoas não se deem conta de algumas das possíveis causas:
      • Nos EUA: a celebração de Thanksgiving
      • No Brasil: as Eleições municipais
    • Eu ao ver pela TV os aglomerados que estão correndo por todo o Brasil, temo que neste Natal em vez de celebrar a alegria, o amor e a fraternidade, presenciaremos a dor, a tristeza e sepultamentos de entes queridos (vocês precisam sempre ter em mente que as consequências mais catastróficas do COVID-19, ocorrem algumas semanas depois do contágio)
  9. As Vacinas, Ah! As vacinas!
    • Todos que me conhecem sabem que eu sou um defensor com “unhas e dentes” da vacinação
    • Fui voluntário da CORONAVAC (parece que tomei placebo) e teria sido de outras vindas de instituições sérias.
    • No entanto me parece haver uma má percepção do que vai ocorrer:
      • Vai levar pelo menos 1 ano para termos uma efetiva cobertura vacinal
      • Dependendo da eficácia da vacina, pessoas podem tomar e não desenvolver imunidade (por exemplo se uma vacina tiver 70% de resposta, há 30% de chance de alguém que tomou não tenha desenvolvido proteção>
      • Não sabemos (e vai demorar para saber):
        • Por quanto tempo vai durar a imunidade das mesmas (isto é, pode ser necessários reforços, que se não forem feitos levará a perda da proteção
        • Se a pessoa vacina não pode ser um transmissor da doença (o chamado portador são, que não desenvolve a doença, mas a transmite)
      • Como estamos no Brasil muita coisa “fora do mundo ideal” pode ocorrer coisas do tipo:
        • Uma pessoa tomar a 1ª dose e não voltar para a 2ª
        • Misturar tipos diferentes de vacinas
        • Oxalá não aconteça, mas D’us me livre:
          • Haja roubo de vacinas e um comércio ilegal (que não sabemos se foi bem estocado)
          • Vacinas falsificadas

Peço que entendam meu intuito com este texto, não é criar alarme, nem pânico, mas sim colocar aquilo que percebo estar ocorrendo. Sei que cada um de vocês está recebendo muitas informações sobre este vírus e rogo que procurem confirmar as mesmas em sites confiáveis.

De qualquer modo, desejo a cada um de vocês um muito Feliz Natal (mesmo com o distanciamento social exigido) e um Próspero 2021 (porém ainda vai demorar um pouco para voltarmos ao nosso antigo NORMAL).

Millor Fernandes escreveu certa feita: “A Gente só morre uma vez, mas é para sempre”.

jairo

2 Replies to “Recomendações para final de ano para COVID-19 (14/12/2020)”

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