Caros,
Recebi este texto de um querido colega (esta revista não esta no meu radar), sendo o autor um renomado Neurologista, que trabalha em um dos mais destacados hospitais do país (não trabalhamos na mesma instituição, mas o que ele descreve também percebo na instituição onde exerço minhas atividades).
Possivelmente eu seja um Dinossauro (ou um Dodô) defendendo a sobrevivência de um modelo de instituição hospitalar conhecida como “Hospital Comunitário” (aquele que atende os anseios da comunidade que busca seus serviços e em geral também é mantido por uma comunidade organizada), porem como muitos de vocês sabem isto esta no meu DNA.
Até esta semana eu acreditava que os Hospitais lideres em inovação, em ter serviços de ponta, buscando a excelência eram (pelo menos em SP) estes Hospitais Comunitários. No entanto, com a recente noticia de que o mais destacado Cirurgião, de onde eu trabalho, estar se mudando para uma das duas grandes redes consolidadas de hospitais, revela uma mudança brusca de paradigma, onde Hospitais “For-Profit” (nada contra eles) entraram de vez no jogo que antes era dos “comunitários” (alias eu tolamente não tinha atinado para isto, quando esta mesma rede, já há algum tempo, tinha “levado” o mais destacado nome da Oncologia de outro Hospital Comunitário”). Minha impressão é estes (“For-Profit”) tem maior foco, maior capacidade de investimento, maior agilidade do que os “Comunitários” e vão ficar com o espaço “Premium” e “Boutique” que antes eram dos “comunitários”.
Há um movimento diametralmente oposto ocorrendo, onde esta sendo “oferecido” por um destacado Hospital de São Paulo, para alguns médicos um modelo de remuneração (“sugerido” por uma fonte pagadora especifica), que é uma valor muito baixo do que aquele que os médicos (que em geral levam mais de 10 anos de estudo, para poderem exercer sua profissão) acreditam ser justo pelos seus serviços.
Este movimento, somado ao descrito no artigo da Carta Capital (abaixo), ao artigo do JAMA abaixo (onde mostra que os hospitais mais bem “ranqueados” dos EUA, não atendem a todas as necessidades dos seus usuários) me faz pensar (espero estar errado) que estes sistemas valorizam mais seus executivos do que seus médicos. Explico: pode ser que se um “top Executivo” de um destes Hospitais tiver uma oferta de emprego em outro local, o “sistema” se esforçará mais para retê-lo do que se um “Médico Top” tiver oferta assemelhada.
Lembro que em algumas “Mecas” da Medicina Americana, nem executivos, nem médicos (nem ninguém) recebem bônus financeiro.
Segundo relatório da S&P 500 (maiores empresas dos EUA), os CEOs do setor de saúde foram (pelo 3º ano em 4) os que mais tiveram aumento de suas remunerações.
A forma de remuneração dos médicos esta influenciando diretamente as escolhas de áreas de atuação (minha sub-especialidade é Endocrinologia, que é uma das mais mal pagas nos EUA) e isto esta fazendo com que Profissionais deixem de escolhe-la (vão existir: Ortopedistas, Cirurgiões plásticos, dermatologistas, mas não vai haver: Pediatra, Clinico geral, geriatra).
Já expressei antes minha preocupação (os episódios recentes aumentam ela) pelo risco de sobrevivência dos Hospitais Comunitários (lembro mais uma vez, que no começo do século 20, haviam 215 hospitais judaicos nos EUA, sendo que hoje restam 15, sendo que apenas 5 são efetivamente da comunidade). Em SP já “desapareceram” o Hospital da Comunidade Italiana, o da Anglo-Americana (e há rumores de mais um em processo de venda). No RJ o Hospital da Comunidade Judaica já foi absorvido por uma das redes consolidadas. Eu em geral sou otimista (pode não parecer), mas já ouvi falar de vários caminhos para esta que um Hospital Comunitário desapareça: Spin-off de partes; Management Buy-Out; compra dos ativos e a Sociedade Filantrópica fica com $ em caixa (que me parece ter sido o que ocorreu com um dos hospitais comunitários de SP).
Não sei o quanto é verdade, mas tenho ouvido falar que o investidor estrangeiro, de uma das grandes redes consolidadas de Hospitais do país, esta muito insatisfeito com seus resultados e buscando alternativas para sair do Brasil (só para citar exemplo correlato: a americana CVS comprou a rede de farmácias da Onofre. Não gostou e vendeu para a Drogasil). Se isto ocorrer, pode deixar o sistema em frangalhos e pior do que estava antes.
Muitos me perguntam se há uma alternativa para este “Doomsday”, eu creio que ainda há, uma fusão entre os Hospitais Comunitários remanescentes, reduzindo seus custos, ganhando capacidade de negociação, a semelhança do que ocorreu em Boston, qdo o Mass General e o Brigham’s se fundiram e criaram a “Partners”
Estou triste e preocupado, e como já escrevi antes, espero estar errado
Abs e boa leitura
jairo
Obs: peço desculpas pelo longo e confuso texto
https://www.cartacapital.com.br/opiniao/caro-nao-e-o-medico-nem-a-medicina-sao-os-burocratas/
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