Caros todos,
Nos próximos dias 10 e 11 de março estaremos celebrando Purim, que é uma das mais alegres festas judaicas. Esta festa celebra a salvação do povo judeu da sua quase aniquilação, nos eventos que vamos narrar a seguir (conforme já expliquei, um dos tipos mais comuns de festas judaicas é aquele que envolve o conceito: “Eles queriam nos matar. Não conseguiram. Vamos fazer uma festa).
Como vocês devem se lembrar, no ano 586 AC, Nabucodonozor invadiu Israel, destruiu o sagrado Templo de Jerusalém, que havia sido construído pelo Rei Salomão (só para recordar o famoso Muro das Lamentações é a última parede que sobrou deste Templo) em 965 AC, e expulsou os Judeus de Israel, levando-os para a Babilônia (Babilônia era a capital da Pérsia), iniciando-se ai o que se denominou o “Exílio da Babilônia”, ou segundo exílio (sendo o primeiro durante o período que fomos escravos no Egito e o terceiro que ocorreu após 70 DC, quando Jerusalém foi destruída pelos Romanos e os Judeus expulsos de Israel e que perdurou até 1948 com o ressurgimento do Estado de Israel. Apesar dos judeus serem considerados estrangeiros na Babilônia, eles tinham certa liberdade e floresceram cultural e economicamente. No ano de 539 AC, subiu ao trono da Pérsia o Rei Ciro, que no ano seguinte estabeleceu um decreto, que ficou conhecido como “A Proclamação de Ciro”, na qual ele autorizava os judeus a voltarem para Jerusalém e a reconstruírem o seu templo (fato que acabou acontecendo em 516 AC). Cerca de 50.000 pessoas voltaram para Jerusalém, mas uma grande parte dos judeus acabou optando por ficar na Babilônia.
Nossa história ocorre no período do reinado do Rei Persa Xerxes I (486-465 AC). Este Rei, também conhecido com o nome de Achashverosh (ou também Ataxerxes), ascendeu ao trono da Pérsia, sem ser o herdeiro legitimo do trono, porém através de inúmeras guerras e conquistas ele se tornou soberano de um império de 127 países que se estendia da Etiópia até a Índia. O império Aquenemida, foi o primeiro dos chamados “Impérios Persas”, tinha uma dimensão de ~7,5 Milhões de metros quadrados, sendo o maior império da antiguidade clássica. Na sua fase gloriosa, se expandia por 3 continentes e ocupava entre outros, os territórios que hoje pertencem ao: Afeganistão; Paquistão; Turquia; Bálcãs; Iraque, Síria, Jordânia, Israel, Arábia Saudita, Líbano. Egito e Líbia. Este império perdurou até 330 AC, quando foi conquistado por Alexandre o Grande (vejam a história de Chanukah, que se relaciona a este importante conquistador).
O Rei Xerxes casou-se com Vashti, que era descendente do Rei Nabucodonozor, com o intuito de legitimar sua autoridade. Alguns anos depois o Rei Xerxes resolveu ter uma nova esposa, pois Vashti não lhe servia mais e ordenou que fosse estabelecida uma busca no seu reino para lhe encontrar uma nova Rainha. Este processo levou anos e culminou com a escolha de Esther (também conhecida como Hadassah), uma judia órfã, que era criada por seu primo Mordechai.
O Grão Vizir (equivalente a Primeiro Ministro) do Rei era Haman ,o qual era o homem mais rico de sua época, cuja fortuna fora amealhada por maneiras escusas e por ser descendente de inimigos mortais dos judeus os Amalequitas, nutria um grande ódio por estes. Assim, Haman agora Todo-Poderoso preparou um plano, no qual estabelecia uma longa lista de falsas acusações contra os judeus, a fim de obter do Rei Xerxes a assinatura de um decreto na qual se determinaria a destruição dos judeus em todas as 127 províncias do reino. Após muita persuasão, Haman obteve a aprovação do Rei para o seu plano diabólico, o qual seria executado no 13º dia do mês de Adar (calendario Hebraico) sendo que este dia foi escolhido por sorteio.
Naquela noite o Profeta Eliau (o maravilhoso protetor que aparece em tempos de perigo, e que anunciará a chegada do Messias) apareceu nos sonhos de Mordechai, o primo da Rainha Esther. Mordechai informou Esther dos planos de Haman, esta preparou um grande banquete para o Rei, ocasião na qual, na frente do Grão Vizir Haman ela faria um pedido especial ao Rei, sendo que o Rei já havia prometido a Esther atende-lo. Após o banquete o Rei Xerxes teria dito: – “ Esther, minha Rainha, deve haver algo que você queira de mim. Você não teria feito este magnífico banquete pelo prazer de termos a companhia de Haman! Diga-me, qual é o seu pedido? Pois até metade do meu reino será dado a você.”. Esther respondeu: – “ Vossa Majestade, eu só peço que minha vida e do meu povo sejam poupadas!. Pois meu povo e eu fomos covardemente condenados a morte.” O Rei gritou: – “ Quem ousa fazer tal coisa?” E Esther respondeu: – “ Um homem muito mal e cruel, um inimigo implacável, que já enviou a rainha Vashti para a morte e agora também quer tirar a minha vida. O vilão não é outro que este perverso Haman”. O Rei na sua fúria determinou que Haman fosse enforcado. Mordechai por sua vez foi conduzido ao cargo de Grão Vizir.
O decreto real que determinava a destruição dos judeus foi revogado no dia em que seria implementado (13 de Adar). Assim, os judeus costumam jejuar no dia 13 de Adar (Jejum de Esther) e no dia seguinte comemora-se com uma festa, Purim que do hebraico significa sorteio, em lembrança de como Haman escolheu a data em que seria eliminado o povo judeu.
A história de Purim foi escrita por Mordechai e Esther, na “Meguilat Esther”, ou Livro de Esther, o qual faz parte da Torah, a qual é lida na sinagoga, todos os anos, na véspera de Purim (14 de Adar) e de novo no dia seguinte.
O Festival de Purim vem sendo celebrado há 23 séculos, ano após ano, geração após geração. Para os judeus esta alegre e maravilhosa festa serve como uma eterna inspiração de coragem, fé, lealdade e devoção ao Nosso Grande e Misericordioso D’us.
Purim é a mais alegre das festas judaicas, é o oposto de Yom Kipur, sendo a mais infantil das festas, Na verdade em Purim se estimula que os adultos ajam como crianças. Usam-se fantasias, faz-se barulho (para afugentar Haman). Estimula-se a fazer certos excessos, como beber, jogar e até brincar com os textos sagrados. É comum se comer um doce chamado “Hamentaschen” (orelhas de Haman), cujo recheio é feito de ameixas e sementes de papoula.
Na celebração de Purim se segue o seguinte ritual:
- Acompanhar a leitura da narrativa de Esther (a leitura da Meguilat de Esther), em geral feita nas sinagogas.
- Enviar presentes de doces aos amigos (chamada de mischoach manot)
- Oferecer caridade para pelo menos dois pobres (chamada de matanot la’evyonim)
- Participar de uma refeição festiva.
A narrativa de Esther é realizada de forma diferente dos cantos tradicionais das sinagogas, sedo feita uma mistura de cantorias, récitas de cartas (como uma epistola), leitura do Livro das Lamentações. Os versos são particularmente tristes, ou se referem a privações de se estar no exílio.
Para alguns Purim é uma festa apócrifa, pois não esta na Torah, mas a mesma é citada em inúmeros textos da antiguidade, que dão, portanto credibilidade a mesma. Alguns destes textos são:
- A própria Meguillat Esther que teria sido escrita a partir de textos do próprio Mordechai no 4º século AC.
- Favius Josephus, historiador que viveu na época de Jesus Cristo e que deixou os mais importantes textos sobre aquela época, deixou vários escritos sobre Purim.
- Plutarco (75DC) cita em seu livro “Vidas” partes desta história.
- O historiador islâmico Muhammad ibn Jarir al-Tabari , no seu livro: “Historia dos Profetas e Reis”, completado em 915 DC, comenta sobre este episodio.
Este texto foi longo e se quiserem saber mais entrem no site www.virtualpurim.org.
Até a próxima festa, a qual será Pessach.
Atenciosamente,
Jairo
Hamentaschen, também conhecido como Oznei Haman (orelhas de Hamã), doce típico de Purim.
Ra’asham (reco-reco), o qual é agitado, para fazer barulho toda vez que o nome de Haman é citadodurante a leitura da Meguila, a fim que o nome desta pessoa do mal não seja escutado (esta pratica esta descrita na Torah em: Deuteronômio 25:19, que diz: Quando, pois, o Senhor teu Deus te houver dado repouso de todos os teus inimigos em redor, na terra que o Senhor teu Deus te dá por herança para a possuíres, apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não te esquecerás.
Celebração de Purim em Jerusalém.
Cestas de doces que são presenteadas em Purim.