Caros Todos,

Hoje iniciamos Pessach, a Páscoa Judaica, na qual celebramos a liberação dos Judeus da escravidão no Egito (para quem não sabe, a Última Ceia de Jesus Cristo era na verdade o jantar da comemoração de Pessach).

Nossa história começa há cerca de 3800 anos, quando Abraão, o primeiro Patriarca dos Judeus, que morava na cidade de Ur, uma importante cidade na Caldéia (no que hoje é o Iraque), escutou um chamamento de D’us e fundou a primeira religião monoteista e mudou-se para Canaã, ou a Terra Prometida, que posteriormente passaria a ser chamada de Israel. Abraão teve um filho, Isaac e este teve dois filhos Jacob e Esaú. Jacob teve 12 filhos que fundaram as 12 tribos de Israel. Um destes filhos era José, que foi vendido pelos irmãos como escravo (devido aos ciúmes que nutriam em relação a ele) e levado ao Egito. José era uma pessoa especial, com dons surpreendentes, inclusive com a capacidade de interpretar os sonhos. O Faraó, por sua vez tinha repetidamente um sonho no qual via 7 vacas gordas e 7 vacas magras. José interpretou o sonho e explicou que significava que haveria no Egito 7 anos de prosperidade e após 7 anos de carência. O Faraó nomeou José seu Primeiro Ministro e este estabeleceu um plano de provisionar alimentos para o período de carência. Quando este chegou, Jacob seus descendentes, afetados pela penúria vieram ao Egito e lá foram bem acolhidos por José e o Faraó e lá permaneceram (acredita-se que estes eventos teriam ocorrido em torno de 1350 AC).

Com o passar do tempo os Judeus se multiplicaram e um novo Faraó, temeroso de uma eventual ameaça por estes e desconhecedor dos feitos de José, transformou os Judeus em escravos e os colocou em situação de extrema penúria. De tempos em tempos o Faraó engendrava novas maneiras de aumentar o sofrimento dos escravos e levar ao controle do seu numero. Em certa época determinou que os recém nascidos do sexo masculino fossem mortos. Uma mãe judia, na busca de salvar seu filho, colocou-o num cesto de vime, o qual foi posto no Rio Nilo. Por uma destas coincidências, o nenen foi salvo pela irmã do Faraó, que o criou como um Príncipe do Egito e lhe deu o nome de Moisés (que significa, o que foi salvo das águas). Quando já adulto, Moisés presenciou um oficial egípcio maltratar um escravo judeu e o matou. Houve uma grande confusão na corte e Moisés ficou sabendo que na verdade era um judeu. Resolveu fugir do Egito e se refugiou nas montanhas, aonde se casou e passou a ser pastor de animais. Anos depois, D’us se revelou a Moisés e o ordenou a liberar os judeus da escravidão no Egito.

Moisés foi ao Faraó, que se bem me lembro era Ramsés II (isto teria ocorrido em cerca de 1200 AC) e tentou persuadi-lo a liberar os escravos, com a recusa deste, D’us aplicou aos egípcios dez pragas, sendo que a última foi a morte dos primogênitos (para que o anjo da morte não entrasse na casa dos judeus, estes foram orientados a fazer um símbolo na porta das suas casas e esta é a origem da Mezuzah, que é a pequena caixa colocada nos batentes das portas das casas judias). Após esta última praga, o Faraó finalmente liberou os judeus que tiveram de sair com rapidez e não tiveram tempo nem de preparar pão para a longa viagem e assim assaram a massa sem que a mesma tivesse fermentado, que é chamada de Matsá, ou pão ázimo. Posteriormente o Faraó se arrependeu e resolveu enviar seus exércitos para destruir os judeus. Foi nesta ocasião que Moisés invocou a D’us, que fez soprar um vento enorme que dividiu as águas do Mar Vermelho e permitiu que os Judeus o atravessassem a salvo, no entanto, quando o Faraó e seu exército tentaram fazer o mesmo, as águas se fecharam e mataram os egípcios.

A travessia do deserto levou 40 anos, pois D’us não quis que aquela geração de escravos entrasse na terra prometida (nem a Moisés foi permitido entrar na Terra Prometida de Canaã) e esta jornada é cheia de fatos importantes, como o Maná que alimentava os Judeus na sua peregrinação, ou a nuvem que lhes fazia sombra. A mais importante destes é quando os judeus chegaram ao Monte Sinai, Moisés subiu ao cume e recebeu de D’us os famosos “Dez Mandamentos” (não vou entrar nos detalhes do bezerro de ouro e outros assuntos).

Em Pessach (que significa passar por cima, em referência ao fato de que o anjo da morte passou por cima das casas dos judeus) celebra-se esta epopéia, quando de escravos passamos a ser homens (e mulheres) livres. É na minha opinião a festa mais alegre e mais cheia de simbologia.

Pessach dura 8 dias e neste período, os mais religiosos não comem alimentos fermentados, para que nos recordemos da comida que os escravos comiam. Nas duas primeiras noites se faz um jantar com a família e os amigos, que se chama de “Seder” (do hebraico: ordem), no qual esta história é narrada através de comidas, rezas e cantos que lembram a saga dos nossos antepassados. O objetivo deste evento não é apenas contar a história, mas principalmente revive-lo, para que todos, mas principalmente as crianças se lembrem de como D’us nos salvou. Durante o “Seder” lê-se a “Hagadá” (do hebraico: a narrativa), a qual relata esta história, a que tem instruções de se comer a Matsá, o “Maror” (uma mistura de maçãs e nozes que nos lembra o barro que os judeus amassavam no seu trabalho escravo), ervas amargas e um ovo, toma-se 4 cálices de vinho, os mais jovens cantam uma música muito divertida chamada de “Ma Nishtana” (do hebraico: o que é diferente? Que se refere a 4 perguntas que são feitas sobre as diferenças da noite de Pessach das demais noites). Declama-se as dez pragas e canta-se uma canção, que tem sido a motivadora dos judeus durante os 2.000 anos de exílio após a destruição do 2º templo, a qual chama-se “Le Shana Ba Bi Yerushalaim” (do hebraico: o ano que vem em Jerusalém). Interessantemente o nome de Moisés não é citado nenhuma vez na Hagadá.

Uma das tradições mais divertidas é o “Afikomen” (que do grego significa sobremesa), trata-se de um pedaço de matsá que é quebrado antes do início do Seder e é escondido. Antes do fim do jantar as crianças tem de encontra-lo e cobram um resgate para devolve-lo, pois o Seder só pode terminar quando se come o mesmo. É uma das formas de se manter as crianças acordadas e interessadas no evento.

Apesar de que o Calendário Gregoriano e o Hebraico não serem coincidentes, a Páscoa e Pessach sempre ocorrem muito próximas uma da outra (até quem sabe por serem originalmente a mesma festa), isto porque a Páscoa é uma festa de data móvel.

Em Pessach cumprimenta-se as pessoas com “Chag Sameach” (do hebraico: Feliz festa) (só para lembrar, o som que o ch quer reproduzir é o equivalente ao alemão (o chamado “r” gutural0, ou o “j” do espanhol)

Assim caros amigos desejo a todos um CHAG SAMEACH.

  1. Uma amiga minha, muito católica, recentemente me explicou que a noite de Pessach cai sempre numa noite de Lua cheia (faz sentido, pois o calendário hebraico é lunar), pois o luar teria ajudado aos Israelitas avançarem durante a noite, vejam Êxodo 11-4)
  2. A 10ª praga: sempre me incomodei com esta, pois de alguma forma me parece cruel demais. Segundo o Midrash (comentários rabínicos sobre a Bíblia Judaica), quando o Moises foi ao Faraó para lhe demandar a partida de seu povo, o primogênito do Faraó, provoca e ridiculariza seu pai, por permitir que um humilde pastor hebreu o humilhasse. Enraivescido pelo insulto e irado pelo seu orgulho, o Faraó resolve se vingar pelas pragas impostas e diz a Moises, que ele lidará com os Hebreus de tal maneira que um grito enorme, como nunca se ouviu antes, será ouvido no Egito. Isto seria uma alusão aos crimes de seu pai (o antigo Faraó), que ordenou o afogamento dos filhos homens dos Hebreus. Entretanto, o Faraó trouxe esta severa punição para o seu próprio povo. Seu plano cruel se virou contra si próprio. Assim, aquilo que o Faraó desejou aos Hebreus, D’us fez acontecer ao seu povo. No entanto, vale a pena lembrar, que na Bíblia existem varias situações onde a ira Divina se traduz em mortes (como o dilúvio)
  3. Na véspera de Pessach, os primogênitos jejuam, num ato de tristeza e lamento, pois caso tivessem nascido Egípcios, teriam morrido.
  4. Interessantemente o nome de Moisés não é citado nenhuma vez na Hagadá.
  5. Os termos “Hebreu” e “Israelita” referem-se ao mesmo povo, sendo que são chamados de Hebreus antes da conquista de Canaã e de Israelita após a mesma
  6. No you tube. Vcs podem ver alguns filmes muito interessantes:
  7. http://www.youtube.com/watch?v=6Z3IwzU97fQ
  8. http://www.youtube.com/watch?v=ZF0oztIcXro&feature=PlayList&p=63BA1F7E8755157E&index=13
  9. http://www.youtube.com/watch?v=KvVzURw9I9w&feature=PlayList&p=63BA1F7E8755157E&index=15
  10. http://www.nytimes.com/2011/04/18/arts/design/the-washington-haggadah-at-metropolitan-museum-of-art.html?_r=2&pagewanted=1&nl=todaysheadlines&emc=tha28
  11.  

Contagem do Omer:

Após o 2º dia de Pessach é iniciado um período de preparo para a próxima grande celebração Judaica que é Shavuot (Pentecostes), aniversario do recebimento da Torá (a Bíblia Judaica), e também da celebração anual da re-aceitação da Torá pelo Povo Judeu.

A contagem do Omer é o período de 49 dias entre Pessach e Shavuot. Contamos ‘cada dia’ por sete semanas e na última noite ficamos acordados a noite inteira para recebermos o Sefer Tora. Contam-se os dias e as semanas durante o desenrolar do serviço religioso habitual, como preparação para o dia de Shavuot, que também é conhecido como o dia das primeiras colheitas de frutas. Cada uma das sete semanas representa uma Sefira diferente na Árvore da Vida, começando por Chessed e terminando com Malchut. Cada dia da semana também é representado por sua própria Sefira.

O período da contagem do Omer é um período de Luto (não se celebram casamentos, festas etc.), em parte devido à peste que matou cerca de 24.000 alunos do Rabi Akiva (1º século da era comum). No 33º dia da contagem do Omer (Lag BA Omer)o luto é temporariamente suspendido.

Tradicionalmente, Shavuot é celebrado como o dia em que Moisés recebeu a Tora no Monte Sinai. Devido ao fato da Tora ser considerada como uma doação recebida para nos ajudar a atingir uma conscientização mais elevada e ser considerada pelos cabalistas como um projeto da Criação, os místicos judeus então explicam a contagem dos quarenta e nove dias do Omer como sendo um período no qual nos preparamos para estarmos prontos para receber a luz da Tora.

The counting is intended to remind us of the link between Passover, which commemorates the Exodus, and Shavu’ot, which commemorates the giving of the Torah. It reminds us that the redemption from slavery was not complete until we received the Torah.

Shavuot é celebrada no 50º dia após o Pessach e estes 49 dias (que ocorrem nos meses de Nissan e Yiar, durante a colheita do trigo em Israel) de intervalo são conhecidos como “Sefirat Ha Omer”, ou seja, a contagem do “Omer” (Omer é uma medida bíblica de capacidade, correspondendo a um feixe de cevada, ~2,2 Litros).

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