Meditação 17:  John Donne



Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano, e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”

A morte de qualquer pessoa me diminui, porque sou parte do gênero humano. A morte de qualquer pessoa no Oriente Médio me diminui mais ainda, pois sei que além de ser inútil, morre alguém com quem tenho laços de sangue, pois somos todos filhos do mesmo pai (Ibrahim para os árabes e Abrahão para os judeus).  O sangue que jorra de um Palestino ferido é o mesmo do que de um Israelense. A dor da perda de um filho é a mesma para uma mãe Cristã, Judia, ou Muçulmana.

É inútil discutir quem esta certo e quem esta errado, pois estamos todos errados. É fútil imaginar que qualquer  solução deste conflito (e de tantos outros) não tenha de contemplar alguns anseios dos povos que habitam nesta região tão sofrida. É certo e seguro que para uma verdadeira paz ocorrer no Oriente Médio as chances de um família Palestina ver seus filhos crescerem e de serem felizes deve ser muito parecida com a de uma família Israelense, mas para isto ocorrer algo diferente tem de acontecer, pois para quem como eu, observa de longe este conflito a impressão é que o objetivo maior do mesmo é de que grupos políticos se mantenham  no poder e não necessariamente o bem estar dos habitantes destas terras.

Ouso parafrasear Martin Luther King Jr., e dizer em voz bem alta, que eu “TENHO UM SONHO”, um sonho em que um dia os filhos de Abrahão/Ibrahim vão poder viver em paz,  em sua terra ancestral, respeitando-se as individualidades de cada credo e em colaboração e oferecendo ao mundo o que temos de melhor, um mundo onde as pessoas não sejam julgadas pela sua escolha religiosa, mas sim pela justiça de seus atos. Eu tenho um sonho que em breve povos irmãos, que estão em conflito abandonarão suas armas e unirão o que têm de melhor e oferecerão ao mundo uma época de esplendor, que eventualmente só tenha ocorrido antes na Espanha Medieval, onde a junção das culturas árabes e judaicas criaram tanta sabedoria.

“Nenhum problema pode ser solucionado pelo mesmo modelo mental que o criou. Nós temos que aprender a ver o mundo de uma nova maneira.” (Albert Einstein)

Sou de uma família de sonhadores, que tiveram a felicidade de verem muitos de seus sonhos se tornarem realidade e vários deles terem um papel transformador da Sociedade em que vivemos (algumas vezes a criação pode não ter sido exatamente aquilo que os Criadores desejavam, mas o produto final foi, e é, muito bom). Assim me é dado o direito de sonhar que um dia todos que habitam a região do Oriente Médio (ou qualquer outro nome que queiram dar) possam ver seus filhos crescerem sem medo da guerra, serem beneficiados pelo progresso que este mundo contemporâneo permite a muitos, que possam viver num mundo em  que a tolerância e o respeito a todos, supere o medo e a desesperança.

Creio ser chegado um momento em que as pessoas que tem o bem em seu coração devem ajudar a buscar uma solução “fora da caixinha” para encaminhar este imbróglio. Culpar um ou outro ator pela situação atual é apenas reforçar o modelo atual, onde seguramente, vão se aproveitar apenas os “Senhores da Guerra” e os “Profetas do Apocalipse”.

Ouso pensar que os descendentes de Abrahão/Ibrahim, que imigraram para o Brasil e aqui construíram uma vida profícua , onde os ranços de um passado de sofrimento em nossas terras ancestrais foram colocados de lado, e que aqui convivem em irmandade com tantas outras comunidades, possam se juntar e ajudar a criar mecanismos para que populações que hoje vivem em penúria e sem esperanças possam ter as condições de se desenvolverem. Creio sinceramente que se forem criadas as condições necessárias de dignidade, respeito e consideração aos povos que habitam na região o amor possa vencer o ódio, a esperança possa vencer o medo. Não será fácil, não será rápido, mas será alcançável.

Termino lembrando Mahtma Gandhi: Num lugar onde predomina o “Olho por Olho” todos vão ficar cegos

Jairo Hidal

Médico em São Paulo, cuja família esteve profundamente envolvida na criação do Hospital Israelita Albert Einstein

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