https://www.cjnews.com/news/health/evolution-of-jewish-hospitals

https://jewishweek.timesofisrael.com/jewish-hospitals-are-becoming-extinct/

http://nationalhumanitiescenter.org/tserve/nineteen/nkeyinfo/judaism.htm

https://www.jgh.ca/about-us/our-hospital/

https://archive.nytimes.com/www.nytimes.com/books/first/d/dershowitz-jew.html

Caros amigos,

Como vocês sabem, eu tenho este pendor por história e acredito no que George Santayana escreveu: “Quem não recorda o passado esta condenado a repeti-lo”

O Hospital (casa de saúde, ou interessantemente em Alemão KrankenHaus) é uma instituição relativamente moderna. Michel Foucault tem pelo menos 2 textos sobre este assunto (um copia acima que é o Nascimento da Clinica e o outro é O surgimento do Hospital Moderno, contido em seu livro “Microfisica do poder”.)

O objetivo do hospital do passado não era de cuidar dos pacientes, mas sim de “conter as doenças”. Os ricos eram tratados em casa com sanguessugas e sangrias e os pobres eram colocados em Santas Casas (em geral nos portos), para evitar a disseminação de doenças. Médicos não frequentavam hospitais, quem fazia papel de cuidador eram as “Irmãs de Caridade”, que muitas vezes estavam mais interessadas em garantir seu ingresso no Reino divino (já que eu não posso comprar uma indulgencia do Papa, se eu fizer obras piedosas [trabalhar na construção de uma Catedral, ou cuidar de doentes] D’us vai me aceitar no Paraiso).

Coloco este preambulo, pois entendo que os Hospitais são coisas “vivas” que mudam e se adaptam aos tempos. Meu pai falecido há 40 anos, nasceu em São Paulo, por parto domiciliar, na mesma cama em que minha avó tinha nascido. Luci, meus filhos e eu nascemos em maternidades e é possível que nossos futuros netos, voltem a nascer em casa (isto se o futuro, como descrito por Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo não vier a ocorrer: Haverão úteros artificiais encubando embriões, como uma linha de montagem)

Do que eu entendo da história da Medicina de SP (não sei do restante do Brasil) houveram a organizações diversas de criação de Hospitais (deve haver outros modelos e cito apenas alguns exemplos)

1)    Hospitais religiosos: como as Santas Casas de Misericórdia

2)    Hospitais ligados a Profissões, como:

a.     Durante o estado Novo foram criados os Institutos de Aposentadoria e Pensão para várias categorias e vários Hospitais foram criados, como:

                i.      Sorocabano: dos ferroviários

                ii.      Brigadeiro (hoje Zerbini) que acho que era do Comerciários

b.     SEPACO: que era do Sindicato de papel e celulose

c.      Da indústria Automotiva

3)    Particulares

4)    Hospitais ligados a certas comunidades de Imigrantes, cito como o exemplo

a.     Matarazzo: da Colônia Italiana

b.     Oswaldo Cruz: Colônia Alemã

c.      Sírio Libanês: Comunidade Árabe Cristã

d.     Avicena: Comunidade Muçulmana

e.     Beneficência Portuguesa

f.       Samaritano: Comunidade Anglo-Americana

No entanto, mesmo sabendo desta premissa, quero fazer uma defesa de um modelo de organização que é o Hospital Comunitário (já escrevi sobre isto, mas encontrei alguns dados, que permitem um novo texto)

O conceito de comunidade é elástico, como por exemplo um:

1)    Hospital Antroposófico (para quem não sabe existe a Clinica Tobias, ligada a esta maneira de pensamento)

2)     Pode ser um hospital étnico cultural como o Hospital Japonês

3)    Pode ser religioso: O Hospital Samaritano de SP foi criado por um Chinês de origem britânica (ou o contrario) que se sentiu incomodado em se internar em hospitais em que havia um crucifixo no quarto (ele era Protestante).

Na minha concepção Hospital comunitário é aquele que cuida dos anseios e necessidade de uma (ou mais) comunidade. Estes anseios podem estar numa dimensão enorme de coisas e cito apenas algumas:

1)    Creio haver mais judeus religiosos se cuidando no Hospital Samaritano (que é um Hospital de uma rede privada) em SP, do que no Einstein

a.     Na região onde atua (Higienópolis) moram muito mais Judeus religiosos do que no Morumbi

b.     Os dirigentes do Hospital (na época ele era um Hospital da Comunidade Anglo-Americana) viram uma oportunidade de aproveitar desta sinergia

2)    A família que mais ajudou financeiramente o Hospital Israelita Albert Einstein Einstein é uma das que mais contribuiu ao Sírio Libanês (afinal ela é oriunda do Oriente Médio)

3)    Nos EUA, em regiões onde é permitido o aborto, tem hospitais que não o permitem, por ser contra seus valores religiosos.

Muitas das razões para a permanência de um Hospital Comunitário já não existem mais, como:

1)    Muitas destas comunidades estrangeiras já não existem (se integraram ao país)

2)    Não há mais tantas dificuldades culturais e de língua

3)    De alguma maneira o “Colchão Social” do pais melhorou, exemplo:

a.     Até a nova Constituição (1988) quem não tinha carteira assinada (e recolhia ao INPS: era Indigente, e portanto varias formas de prover algum atendimento a esta população desprotegida precisou ser estabelecida, como Por exemplo o Atendimento que o Einstein faz na Comunidade de Paraisópolis.

b.     Seguro (ou convenio) saúde, quer seja individual ou pelo seu vinculo trabalhista

4)    Distancia:

Quando os Judeus moravam no Bom Retiro haviam varias organizações sociais na região, entre elas uma tal de Policlínica Linat Hatzedek, que provia assistência a saúde desta população. Hoje os Judeus estão espalhados por uma área geográfica imensa.

No entanto este modelo de hospital (nos EUA grande parte deles são Non-for-Profit) em geral tem alguns pontos que merecem sua defesa e persistência:

Uma das inúmeras razões que São Paulo acabou tendo um grande destaque na Medicina Brasileira foi o papel das Comunidades organizadas:

Diferente do RJ onde o principal “Provedor” era o Estado (em especial na época que era Capital Federal), o avanço da Medicina Hospitalar teve enorme participação das comunidades:

         i.      Impuseram níveis de serviço não existentes antes

         ii.      Incorporaram tecnologias inovadoras (mesmo correndo o risco de não darem certo)

Fiz um levantamento de tecnologias que o Dr. Féher (sucedeu meu pai na Presidência do Einstein e que foi o impulsionador do grande salto que este hospital deu)

a.     50% delas não deram certo (cito algumas: Prostaton e Heart Laser)

b.     Mas as que deram (por exemplo ele trouxe a primeira Ressonância do Hemisfério Sul) deram muito certo

Na década de 70, como subproduto da pesquisa espacial, inúmeros avanços ocorreram na Medicina

                           a. Exames de imagem (utilizando da foto digital)

                            b. Miniaturização

                Estes hospitais comunitários tinham uma capacidade de buscar recursos para equipar seus hospitais

Assim uma espécie de competição saudável entre estes hospitais foi fazendo com que o nível de atendimento a saúde de SP crescesse muito

No modelo de “For-Profit” isto é bem mais complexo, pois cada Centro de Custo tem de gerar lucro por si só e assim estes mesmos centros terão receio de investir em novas tecnologias que podem ou não dar resultado

Qdo estes hospitais Comunitários deixam de ser “governados” como tal, podem ocorrer coisas que desfiguram sua “raison d’être”

Vou dar exemplos de algumas coisas (de maior ou menor impo rtância) do hospital que trabalho:

          1.      Velório:

a.     Foi fechado, sem maiores explicações (que tenho certeza devem existir)

b.     Mas eventualmente a Comunidade que deu a luz a este hospital e ainda empresta parte de seu nome (“Israelita”), queira ter um velório

       2.      Alimentação:

a.     Por muitos anos o Hospital servia comida Casher, com toda a supervisão exigida

b.     Estas refeições não eram apetitosas (Na época o tipo de Carne Casher não era saborosa), e caras.

c.     Todas as milhares de refeições servidas (pacientes, funcionários, médicos) eram Casher

d.     O numero de judeus religiosos (que efetivamente comem Casher na sua vida privada) internados era muito pequeno

e.     Estes ainda não acreditavam que a alimentação era rigorosamente supervisionada e traziam de suas próprias casas.

f.     Dr. Féher, corajosamente, após consulta a muita gente, resolveu terminar com isto

g.     Manteve-se alguns preceitos: não se come porco, não se come frutos do mar (aqui no Einstein tem um excelente restaurante japonês, mas não tem frutos do mar)

           3.    Câmara Hiperbárica:  Recentemente um paciente do qual cuidei por 30 anos, precisava usar deste recurso, mas aqui no Einstein (creio por razões econômicas) foi desativada

Todo Hospital tem uma serie de atividades que não dão lucro (ou dão prejuízo). Na época que eu trabalhava na Direção da Sociedade Mantenedora do Einstein que eu me lembre eram:

1.     Maternidade

2.     Pronto Atendimento

3.     Radioterapia

4.     Reabilitação

No modelo de Hospital Comunitário que eu defendo, isto poderia ser tratado de forma diferente:

1.     Um setor não é rentável e se contempla fechá-lo

2.     A comunidade que da suporte ao Hospital acredita que este serviço deve ser mantido

3.     Esta disposta a custear a diferença (obvio que não é tão simples).

4.     O serviço é mantido.

Temos um exemplo (não operacional) dentro do Einstein:

1.     Dentro do Einstein existem vários serviços de comida para publico externo (não pacientes)

2.     Um deles é um restaurante Casher, que da prejuízo

3.     Uma importante família da Comunidade, que contribui de forma intensa as obras do Hospital desde sua chegada ao Brasil, assumiu o prejuízo mensal

4.     Foi mantido este serviço

Já escrevi para vcs que há décadas, fui fazer um treinamento com o Dr. Donald Berwick no IHI (creio ser ele um gênio do bem, que esta estudando formas de modificar a medicina) sobre o papel de um Board Member em um Hospital Non-For-Profit e a mensagem foi: “O Board Member é quem tem de garantir ao usuário de que tudo que poderia ser feito para um bom resultado foi feito”.

A razão de escrever este longo texto (peço perdão) é que acredito que esta instituição esta seriamente ameaçada, explico e dou dados acima:

1)    Nos EUA chegaram a ter cerca de 115 (peço desculpas, pois para várias pessoas eu havia passado o numero de 215) Hospitais Judaicos e uma das principais razões de serem tantos, é que os Médicos Judeus não conseguiam o “privilegie” (direito) de internar pacientes nos Hospitais americanos.

2)    Hoje sobraram cerca de 15 (e cerca de 2/3 deles tem o nome, mas não são verdadeiramente da comunidade)

3)    Muitas das razões são:

a.     Varias das já colocadas acima

b.     A enorme consolidação dos Hospitais americanos fez (como em tantos outros negócios) o Hospital comunitário desaparecer

4)    De forma assemelhada, isto esta acontecendo no nosso meio, por exemplo:

a.     Em SP:

               i.      O Hospital dos Italiano (Matarazzo) fechou

               ii.      O Hospital Anglo-Americano (Samaritano) foi comprado por uma destas redes consolidadas

               iii.      Parece haver um outro importante comunitário em busca de um comprador

b.     No RJ o Hospital Israelita, que é bem antigo, hoje faz parte da Rede D’Or

No Brasil existem pelo menos duas redes de Hospitais consolidadas, com maior capacidade de negociação em seus insumos, equipamentos e fontes pagadoras. Como operações “Stand Alone” podem sobreviver?

Existe alternativa e obviamente se escrevo este texto é porque acredito haver uma saída.

1.     Em Boston, numa situação assemelhada, dois Grandes Hospitais (Non-for-for profit), fundiram suas operações (n verdade a infraestrutura, contratos com operadoras e negociação de preços) e criaram a Partners à qual depois vários outros hospitais se juntaram

https://www.partners.org/Services/Hospitals-And-Affiliates.aspx

2.      Creio que é o momento para que os Hospitais comunitários de SP (e porque não do Brasil) pensem seriamente nesta alternativa

3.     Haveria redução de custos, melhoria da qualidade uma verdadeira win-win situation.

Obvio que como toda boa fusão há problemas:

              a)      O CADE permitirá? ( Consultei um amigo que lida com Direito econômico e este disse que sim.

             b)    Culturas diferentes precisam ser integradas

              c.      Algumas funções e cargos serão redundantes e desaparecerão.

Mas acredito que temos muito boas experiências sobre isto (como Unibanco – Itaú) e seguramente muitas que deram erradas

Todos sabem (porque ja me referi a ela) Barbara Tuchman, minha Historiadora predileta diz que a Marcha da Insensatez esta ocorrendo sempre e cabe a nós identificar as alternativas.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Barbara_Tuchman

https://en.wikipedia.org/wiki/The_March_of_Folly

Bom final de semana

jairo

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