“Borders? I Have Never Seen One.But I Have Heard They Exist In The Minds of Some People.”
A expedição de Kon Tiki foi um dos livros que marcou minha juventude e me despertou o gosto de conhecer o mundo.
Thor Heyerdahl nasceu na Noruega e sempre teve um grande interesse por Zoologia, tanto que se formou nesta matéria (e também em Geografia) na Universidade de Oslo. Durante sua formação acadêmica teve um interesse especial pela cultura da Polinésia.
Nos anos de 1937 a 1938 ele e sua esposa foram para as Ilhas Marquesas (um dos locais que eu ainda quero conhecer, e onde Paul Gauguin morou muito tempo) em especial em Fatu Hiva, em teoria para estudar como animais se desenvolveram nas diversas ilhas deste arquipélago (uma espécie de “Darwin Revisited”), mas na verdade eles queriam mesmo fugir para os “Mares do Sul” (especulo que possa ter sido influenciado por um dos meus autores prediletos: Somerset Maugham) e nunca mais voltar para casa. Não levou muito para se desiludirem deste “Paraíso” e querem voltar para casa.
Durante sua estadia nas Ilhas Marquesas Thor percebeu alguns traços em comum entre as culturas dos habitantes da Polinésia e os da Costa do Pacifico da América do Sul (basicamente o Peru atual).
- Apesar de não haverem gatos na Polinésia antes da chegada de Europeus, haviam estatuas antigas (pré-colombianas) retratando este animal.
- Os habitantes destas ilhas diziam que seus ancestrais tinham vindo do Leste (onde fica a América do sul) e sabiam de cor o nome de seus ancestrais até chegarem a um personagem quase mítico chamado Kon Tiki
- Na cultura andina o Deus-Sol também era Kon-Tiki.
Thor desenvolveu uma teoria de que os Polinésios poderiam ter tido origem da América do Sul (lembrem-se que à época não havia testes como os de DNA ou outros). Porem seria quase impossível para os nativos do atual Peru fazerem à época (se calcula 1280 AD) a travessia do Oceano Pacifico.
Thor construiu uma embarcação de madeira de balsa, com a mesma tecnologia que o povos da região tinham à época, que recebeu o nome de Kon Tiki.
Em 28 de abril de 1947, o Kon Tiki, com 6 tripulantes, liderados por Heyerdahl partiram da costa peruana e 101 dias depois chegaram nas ilhas Tuamotu. Com isto provaram que era possível habitantes da América do sul terem feito esta viagem trans oceânica.
O livro foi editado em 1948 e virou um best-seller, foi traduzido para muitas línguas e virou um documentário que recebeu um Óscar.
Com o passar dos anos as teorias de migração de Heyerdahl se provaram erradas.
Mas as aventuras de Thor não terminaram aí, pois ao longo de sua vida ele fez várias outras expedições tentando mostrar ligações entre diversas populações geograficamente muito distintas, algumas delas foram:
- Ilha da Páscoa: 1955-1956 (estive lá com meus pais e irmão em 1977)
- Este é possivelmente o local mais distante do mundo (na língua local é chamado de “Umbigo do Mundo”
- Havia (e ainda há) um mistério sobre o povo que lá habita e das gigantes estatuas de pedra (Moais) existentes. Esta foi uma viagem para tentar desvendar este
- Ra I e Ra II: 1969-1970. Ra é o Deus Sol no Egito antigo
- Nestas viagens Heyerdahl especulou que poderia haver alguma semelhança entre os Egípcios e os Astecas: Ambos os povos construíam piramides e adoravam o Sol
- Construiu um barco de junco e saiu de um porto na costa Marroquina, com objetivo de chegar a ilha de Barbados.
- O Ra I (1969), foi construído no Rio Nilo (enfrente as grandes piramides), mas não suportou a viagem absorvendo muita agua e foi abandonado uma semana antes de chegarem ao seu destino
- No ano seguinte um novo barco de junco de foi construído, mas desta vez no lago Titicaca (também estive lá em 1973) por índios da etnia Aymara (ainda hoje se utilizam barcos de junco neste lago). Partiram do mesmo Porto Marroquino e 57 dias depois chegaram a Ilha de Barbados. Ficou portanto comprovado que era possível que estas duas grandes civilizações possam ter tido contato, antes da “descoberta”por Colombo.
- Construiu um barco de junco e saiu de um porto na costa Marroquina, com objetivo de chegar a ilha de Barbados.
- Tigris 1978:
- Esta foi a última viagem deste tipo de Heyerdahl.
- A idéia era testar se em um novo barco de junco era possível que as civilizações da Mesopotâmia e do “Indus Valley” (onde hoje é o Paquistão e a parte ocidental da India) poderiam ter se relacionado.
- O barco foi construído no atual Iraque, obviamente partindo do Rio Tigre (daí seu nome) e velejou pelo Golfo Pérsico e o Mara Arábico e chegou a região do Paquistão e do Djibouti, no “Chifre da Africa”.
- A intenção de Thor era de navegar no Mar Vermelho, mas como havia guerra por todos os lados, a viagem foi interrompida após 143 dias.
Em Oslo há um maravilhoso Museu dedicado a Thor Heyerdahl e suas viagens. Em Fevereiro deste ano a Mais-Mais, eu e alguns amigos queridos tivemos o privilégio de visitá-lo.
jairo
Atualização em 16/07/20
Recentemente foi publicado um artigo na Nature, uma das mais prestigiosas revistas cientificas do mundo (Fator de Impacto 43) demonstrando evidencias por DNA que os polinésios e os americanos tiveram contato antes da chegada dos Europeus. Thor deve estar feliz.
An archaeological conundrum may have been solved by DNA analyses carried out by a team of Stanford Medicine scientists led by Alexander Ioannidis that indicates Native Americans and Polynesians came into contact centuries before the arrival of the first Europeans.
In 1947, a young Thor Heyerdahl and five like-minded explorers set sail from Peru on a primitive balsa raft on an epic 101-day journey across 6,900 km (4,300 mi) of open sea to Raroia in the Tuamotus in Polynesia. The purpose of this dramatic experiment was to answer a question that had puzzled scholars for decades. Why were there so many similarities in some words, works of art, and even crops between the native peoples of the west coast of South America and those of Polynesia.
The Polynesians and the South Americans are unrelated, with the South Americans believed to be descended from people who migrated down from North America, while the Polynesians migrated much later across the Pacific from Southeast Asia. However, some works of Polynesian art resemble those found in the Andean civilizations of South America, and some Andean and Polynesian words sound very similar, but the biggest puzzle was that the Polynesians cultivated sweet potatoes – a plant native to South America. Even more intriguing are similarities between the word for sweet potato in Polynesian and various Andean languages.
The problem was that the two peoples were separated by thousands of miles of open ocean. The Polynesians had great voyaging canoes, but the winds and currents would have prevented them from reaching South America except by a rough upwind tack, and while the South Americans had winds and currents in their favor to drift west, their seacraft were limited to fragile coastal rafts made out of balsa wood.
The purpose of Heyerdahl’s voyage was to reveal whether the South Americans could have sailed or drifted to Polynesia. Despite ending up on a reef, the Kon Tiki voyage was successful. However, it only proved that such a trip could be made, not that it did happen.
The Stanford study aimed at gathering direct evidence that Polynesians and Native Americans not only did meet, but that they also had offspring, which would be reflected in modern populations. These would be revealed by deep-genome analysis, which involves sequencing genomes in search of snippets characteristic of each population and segments that were inherited from the same ancestor generations ago.
According to Stanford, this isn’t the first time that DNA has been brought to bear on the problem. Early genetic tests focused on sweet potatoes and how or if the ones grown in Polynesia are related to the ones in South America, but the genetic origins of the sweet potato were too complex to provide a definitive answer.
Instead, Ioannidis’s team focused on 807 samples from people on 17 Polynesian islands and from 15 Native American groups along the Pacific coast of the Americas from Mexico to Chile. Modern DNA samples were preferred because, as is notorious in the tropics, samples from archaeological sites were too degraded. From there, they were able to trace common genetic signatures of Native American and Polynesian DNA back centuries to about 1200 CE, which Ioannidis says is “around the time that these islands were originally being settled by native Polynesians” and is over 200 years before the first Europeans reached South America.
According to Ioannidis, the DNA points to a genetic mingling of people from Polynesia and what is now Columbia due to Polynesians landing either by design or accident in South America at least once, though it is also possible that a Columbian raft was caught in a storm and drifted west, which could also explain the sweet potato’s migration as opposed to their floating on a natural vegetable mat.
“If you think about how history is told for this time period, it’s almost always a story of European conquest, and you never really hear about everybody else,” says Ioannidis. “I think this work helps piece together those untold stories – and the fact that it can be brought to light through genetics is very exciting to me.”