Mais-Mais em Pasárgada -Irã

https://en.wikipedia.org/wiki/Pasargadae

Pasárgada era a Capital de Ciro, O Grande (para os Judeus ele tem uma grande importância, pois em derrotando a Babilônia, permitiu o retorno à Terra de Israel), que a Mais-Mais e eu conhecemos em uma maravilhosa viagem ao Irã em 2016

Creio que este poema se aplica muito bem ao momento atual, em que estamos limitados as coisas que podemos fazer e em Pasárgada poderíamos ser livres.

Poeta Manuel Bandeira | AMB
Manuel Bandeira tomando posse na Academia

Manuel Bandeira foi diagnosticado com Tuberculose aos 18 anos de idade (o que era uma sentença de morte no inicio do século 20. Lembrem-se que o primeiro antibiótico eficaz para combate desta doença foi a Estreptomicina, descoberto por Salman A. Waksman em 1943, que o levou a ganhar o Prêmio Nobel em 1952). Esta doença marcou sua vida pessoal e sua produção literária: http://www.sopterj.com.br/wp-content/themes/_sopterj_redesign_2017/_revista/2005/n_01/14.pdf

Prof. Waksman em visita as Obras do Einstein (de mãos no bolso, sou eu)

Deixou de cursar Arquitetura em São Paulo, passa por várias estações climáticas (e sanatórios). Vai para a Suíça (fica lá os 2 anos finais da Primeira Guerra Mundial). Em um curto espaço de tempo (196 a 1920) perde sua mãe e irmã (de tuberculose) e seu pai.

É orientado pela medicina da época a ter uma vida reclusa. Quase não saia de casa, não se divertia com os amigos e “Pasárgada”passa a ser aquele lugar idílico onde ele poderia fazer tudo e qualquer coisa (como nós tanto desejamos nesta fase de isolamento social)

Manuel Bandeira tinha tudo, para ser uma pessoa triste e melancólico, mas foi o oposto. A perda de seus familiares o fez se aproximar de outros poetas de sua época, como Mario e Oswald de Andrade; Menotti Del Picchia; Sérgio Buarque de Hollanda entre outros

Apesar da doença que o acompanhou a vida toda, ou quem sabe, por causa dela, aproveitou intensamente cada momento de sua existência e registrava por escrito tudo que percebia.

Há um provérbio em Yiddish que diz: “Mann Tracht, Und Gott Lacht”. O homem planeja e D’us ri. Manuel Bandeira viveu uma longa vida: Faleceu aos 82 anos

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcaloide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

É o próprio Bandeira quem explica:

“Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. […] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias […]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema […]

Há um outro poema de Bandeira que vale citar: Pneumotórax, que revela como ele lidava com sua doença:

2 Replies to “Vou me Embora pra Pasárgada – Manuel Bandeira”

  1. Pois é, querido doutor Jairo,
    Manuel Bandeira tinha tudo, para ser uma pessoa triste e melancólica, mas foi o oposto.
    É aqui vai uma poema-prova do seu bom humor:

    Pneumotórax

    Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
    A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
    Tosse, tosse, tosse.
    Mandou chamar o médico:
    — Diga trinta e três.
    — Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
    — Respire.

    — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
    — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
    — Não.
    A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

    Abraço de sempre.

    Edgard

    1. Papi querido,

      Vc sempre me ilumina. Eu conhecia esta poema do Bandeira. Coloquei o de Pasárgada, pois como o poeta (preso em casa pela Tuberculose) nós estamos presos por esta pandemia e queríamos ir para Pasárgada, onde somos livres.

      Te cuida por favor
      abs virtuais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *